Desde 1042, quando o então chefe da Igreja Católica, Urbano II, organizou a primeira Cruzada ao Oriente Médio para libertar dos muçulmanos um monte de terra apontado como o sepulcro do Cristo – e também pelo dinheiro -, motivações religiosas formam o pano de fundo de um cenário para assegurar poder material e riquezas a líderes de sistemas religiosos autodenominados de igrejas. Esse modelo, repetido ao longo da história, encontra lugar apropriado, nos dias atuais, no Brasil e em toda a América Latina.
As chamadas igrejas evangélicas estão em plena atividade, para comprovação dessa afirmativa, com influência maciça de setores políticos e econômicos dos Estados Unidos, como parte de estratégias de dominação cujos tentáculos alcançam todos os setores de atividades em várias partes do mundo. Como no passado, doutrinas distorcidas espalham uma espécie de temor entre fiéis, mergulhando-os numa zona de torpor e levando-os a práticas inaceitáveis, a maior delas o ódio a quem pensa diferente.
Esses sistemas religiosos, que em tudo se mostram distanciados do verdadeiro sentido dessa palavra igreja, conseguem exercer dominação coletiva por meio de comportamentos autoritários essencialmente políticos, em um modelo capitalista cada vez mais voraz. Seus líderes demonizam a política e em nome de Deus contribuem para o aumento da desigualdade social e a pobreza e se tornam parceiros dos poderosos desta terra, na prática de uma política mais cruel.
Então não foi assim em 1935, na Alemanha, com a ascensão do nazismo, no Brasil, em 1964, com a ditadura militar? E nesse mês de novembro, quando se assiste no País várias empresas denominadas igrejas evangélicas organizadas em cruzadas políticas e ainda a autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, com uma Bíblia na mão assumir o poder, no vácuo do golpe que depôs o presidente eleito Evo Morales?
Esse tipo de cruzada que varre o Continente latino-americano tem no Brasil o exemplo maior, com a ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República, eleito por meio de multidões de evangélicos. Como rebanho, liderados por donos de prósperas empresas/igrejas sucumbiram às fake news cujo conteúdo estabelece uma hipnose coletiva e desperta monstros adormecidos, essenciais para a aceitação do ódio, preconceito, violência e morte.
Mensagens de ódio e preconceito são emitidas por evangélicos bolsonaristas. Falam crueldades com a mesma facilidade com que exaltam o amor, numa explícita contradição, se colocadas em confronto com a figura de pacificador do Cristo, mesmo diante de seus algozes. Como cegos, são guiados por falsos profetas, mais interessados em manter suas empresas/igrejas, que geram privilégios como cargos públicos, concessão de emissoras de rádio e TV, honrarias, dinheiro e poder, no mais perfeito exemplo do coronelismo político.
Afirmam ser patriotas e, no entanto, apoiam a política entreguista do governo a empresas estrangeiras; se dizem defensores da família, mas, ao mesmo tempo, desprezam famílias desestruturadas pela pobreza; veem a violência somente pelo viés de que “bandido bom é bandido morto”, mas insistem em ignorar as causas; aceitam distorções da Justiça, o rasgo da democracia e a mentira; acolhem a censura e tentam extinguir a liberdade de expressão. Esquecem o livre arbítrio, preferem a força bruta, desfazem a mensagem de paz e glorificam a guerra.