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A Peste – Parte III

Tivemos uma evolução rápida de casos de infecção no país e sua subnotificação dificulta os trabalhos e as políticas de controle do surto

No Brasil, os casos de Covid-19 se expandem de forma bem intensa, a curva de contágio se agudiza e o país já concorre dentre as nações com mais casos do mundo, sem previsão de achatamento da curva, e com uma governança sobre o Ministério da Saúde caótica e conduzida pela vaidade de Jair Bolsonaro, que não gosta de ninguém que lhe ofusque o brilho, como ocorreu com as transmissões diárias pela TV, ao vivo, feitas pelo ex-ministro Mandetta, o que não agradou Bolsonaro, que fritou o ministro e depois provocou o pedido de demissão de seu sucessor, Nelson Teich.

O ministério agora está sendo militarizado na sua burocracia e com Pazuello ocupando a cena, já com a promessa de Bolsonaro de que seu ministro da “cloroquina” irá ficar no cargo, pois o presidente encontrou seu lacaio para o Ministério da Saúde, com situações radicais que se agravam no país. Tivemos uma evolução rápida de casos de infecção no país e sua subnotificação dificulta os trabalhos e as políticas de controle do surto, com casos que nem chegam ao conhecimento do SUS ou da saúde privada e comorbidades que não entram como casos de Covid-19.

O primeiro caso de infecção por Covid-19 foi em São Paulo, e em 5 de março, o Ministério da Saúde confirmou que o Brasil teve transmissão local do vírus em São Paulo. No dia 17 de março, o Estado de São Paulo registrou a primeira morte no Brasil pelo novo coronavírus. Temos problemas em relação à procura de equipamentos para combate ao surto do vírus, e já contamos com casos de desvio de verba pública, por exemplo.

O Ministério Público do Rio e a Polícia Civil fizeram uma operação que prendeu cinco pessoas, incluindo aí o ex-subsecretário de Saúde do governo do Rio, Gabriel Carvalho Franco. Ele teria se aproveitado da brecha de compras de material sem licitação, pois, na encomenda de mil respiradores, o governo teria pago antecipadamente R$ 18 milhões para empresas fantasmas; e 25 respiradores foram apreendidos.

Em Santa Catarina e no Pará, também houve busca e apreensão, bloqueio de bens e até prisões por causa de contratações suspeitas feitas por governos estaduais, e em São Paulo foi instaurado um inquérito para investigar compras de mais de R$ 500 milhões feitas pelo governo estadual. O fato de o decreto de calamidade, editado por causa do surto de Covid-19, ter dispensado muitas administrações de fazerem os procedimentos comuns de licitação, favoreceu que fosse feita transações de má-fé, o que é um escândalo sem proporções.

Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, instalou respiradores que não funcionaram direito em hospitais estaduais, nesta situação de compra sem licitação, uma vez que a importadora SKN do Brasil entregou 152 aparelhos de modelos diferentes dos que foram pedidos em contrato, e pior, estes não eram para tratamento do Covid-19, e o governo do Pará pediu o bloqueio de R$ 25 milhões em bens de sócios e pessoas ligadas à empresa, tentando tirar o governo do caso e alegando que a irregularidade foi por parte da empresa fornecedora. Agora o MP investiga o caso.

A alegação do governo do Pará tem que ser apurada, pois esta mesma empresa SKN também enfrenta problemas de irregularidades no estado do Rio de Janeiro, na importação de respiradores encomendados pela MHS Produtos e Serviços, aonde Glauco Octaviano Guerra, responsável pela MHS, foi preso. Também foram presos dois subsecretários da área de compras do governo do Rio de Janeiro, na Operação Mercadores do Caos, da Polícia Federal.

No mundo, por sua vez, vários países tiveram suas cadeias de suprimento rompidas, relacionadas à comida, papel higiênico e água engarrafada, a busca de material para proteção individual explodiu, e houve atrasos na entrega de equipamentos médicos. Os EUA foram acusados de redirecionar para si mesmos um conjunto de 200 mil máscaras que iam para a Alemanha, o que foi chamado de pirataria moderna.

Os EUA estariam fazendo ofertas financeiras mais altas do que as já assinadas entre países e fornecedores, as ações envolveriam a 3M, empresa americana que produz as máscaras, e que acabou por ser proibida de exportar seus produtos médicos para outros países, num ato de Donald Trump, que recorreu a uma lei da época da Guerra da Coreia, nos anos 1950.

Tivemos diversos eventos esportivos adiados ou cancelados pelo mundo todo, incluindo as Olimpíadas de Tóquio, que seriam este ano e foram adiadas para 2021. Na cultura, shows e festivais de música foram adiados ou cancelados, teatros suspenderam as suas exibições, cinemas foram fechados, produções de filmes e séries tiveram as suas filmagens suspensas, e muitos artistas optaram por fazer lives e eventos virtuais.

O mundo do trabalho como um todo, tirando os serviços essenciais, está operando online e desenvolvendo o teletrabalho, votações de governos estão sendo resolvidas por videoconferência, o ensino também está se dando à distância, as viagens foram canceladas e as companhias aéreas estão em crise com o fechamento das fronteiras.

(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog:
http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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