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A quem servem as sombras

A verdade e o interesse na política

Vem da origem da filosofia grega, mais precisamente pelo Séc. III a.C., a visão aristotélica de que o homem é um animal político – Zoon politikon, animal racional, que pensa e fala.

Ideia de mais de 2 mil anos que define a condição do ser humano em sua existência social, sofrendo até hoje o preconceito da ignorância, que toma o conceito pela forma como ele é manipulado. A grosso modo, pela atuação comum (não confundir com normal) dos políticos.

Existe em nossa sociedade, principalmente no meio mais popular, uma aversão por esse “tipo” de pessoa, o político e, mais ainda pelo tema, por isso é muito comum que as pessoas se excluam de conversas quando escutam explicitamente o conceito política.

Bem, primeiro vamos esclarecer que a política não se restringe à política partidária, tão presente nos periódicos. A política, como definiu o estagirita, é condição do ser humano que precisa estar sempre exercitando a política em suas relações.

Para melhor compreender a afirmação do filósofo, podemos refletir sobre a menor célula da sociedade, a família, que sob qualquer traçado tem sua constituição política. Inicia-se com uma política de aproximação, constrói-se uma política de convivência social em intensa negociação de onde frequentar, com quem se relacionar, como se divertir, etc. se chegam filhos ou agregados, é definida uma política de hierarquia muito bem delineada entre os moradores adultos, crianças/adolescentes e jovens. Desde os regulamentos diários e as responsabilidades de cada um, até a definição de a quem cabe cada tipo de correção, orientação, etc. Enfim, negociação e política estão sempre em pauta.

Aqui quero tratar das consequências do preconceito que a política enfrenta junto às pessoas comuns, principalmente aquelas que estão na base das organizações sociais e comunitárias.

As sombras, estabelecidas “culturalmente” no assunto, são muito bem utilizadas por alguns políticos profissionais estabelecidos, que se aproveitam da ignorância de novos e novas líderes comunitárias, geralmente pessoas simples da comunidade que atendem a uma necessidade de seu bairro, mantendo-as como cabos eleitorais que poderão perpetuá-los no poder.

Quanto mais tempo a liderança comunitária leva para entender sua importância na política partidária, mais facilmente é usurpado dela a sua influência direta com o cidadão (aqui eleitor). Muitas vezes, o poder político municipal mantém essas lideranças em seu plantel de multiplicação de votos, atendendo, homeopaticamente, as demandas de seu bairro em troca dos elogios e agradecimentos públicos que essas lideranças possam lhe fazer para manter a “gratidão” da comunidade, sempre fazendo pensar que a obra ou serviço entregue foi produto de sua bondade no atendimento àquela liderança.

É desta forma que se perpetuam políticos populistas, geralmente milionários, governando populações carentes iludidas com as sobras da verdade e, pior, se sentindo prestigiadas pelo próprio algoz.

Penso que para amenizar esta situação, precisaríamos de políticas públicas na área de formação das lideranças comunitárias, que além das questões de funcionamento das instituições, capacitassem para uma visão crítica da sociedade que vivemos, preparando essas lideranças para a ética na relação de poder exercida entre elas e os políticos ocupantes das instituições.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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