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A Vitória cinza

As cenas de violência registradas nas últimas horas em Vitória revelam um dado de realidade: o Espírito Santo não deixou de ser um Estado violento. A redução das taxas de homicídios, muito comemorada pelo governo do Estado — e pelo prefeito de Vitória, no caso específico da Capital —, funciona bem para construir gráficos e enfeitar propagandas. Mas a realidade é bem diferente. A população vive a expectativa da violência iminente, que ontem se concretizou nos conflitos no Bairro da Penha 
 
A “guerra civil” ganhou as ruas após um adolescente de 16 anos ser morto por um policial militar na manhã dessa terça-feira (25). A comunidade da Penha acusou a PM de agir com excesso. A polícia se defendeu, alegando que o jovem reagiu à abordagem dos policiais porque tinha envolvimento com o tráfico de drogas. 
 
O clima de tensão entre policiais e moradores ainda estava presente na manhã desta quarta-feira (26), durante o enterro de Wedeson de Souza. Familiares e moradores insistiam que houve excesso por parte da polícia. 
 
O episódio, independentemente dos esclarecimentos, evidencia a ausência do Estado em territórios controlados pelo crime organizado, e isso não é uma novidade e tampouco “um fato isolado”, como tentou justificar o secretário de Segurança André Garcia. 
 
Uma linha muito tênue divide o morro do asfalto. Esse “equilíbrio” se mantém no fio da navalha. A morte do adolescente foi suficiente para romper esse ponto de vulnerabilidade e desvelar a “guerra civil” que sempre existiu neste Estado, mas que é ignorada. Semelhante a um vulcão adormecido, mas que pode entrar em erupção a qualquer momento. 
 
Ontem a lava desceu o morro para cobrar sua conta social. Essa face de Vitória é feia e assusta. Essa não é a Vitória que aparece nos rankings de qualidade de vida. A Vitória que tem sempre o céu azul e o sol brilhando. A Vitória do cartão postal, com pessoas bonitas e saudáveis, esbanjando alegria enquanto pedalam suas bikes pela orla. Essa é a Vitória cinza, do esgoto a céu aberto, da escola desestruturada, do posto de saúde que funciona precariamente. A Vitória esquecida pelo poder público, que, na ausência do Estado, foi ocupado pelas organizações criminosas, que fazem reféns seus moradores. 
 
No perfil do Facebook do adolescente morto há um desenho inquietante, que com certeza diz muito mais do que o inquérito da polícia vai tentar explicar daqui a algumas semanas ou meses sobre o episódio. No desenho, um jovem está ante a uma encruzilhada. Um caminho leva à escola e o outro à prisão. Wedeson, infelizmente, não teve chance de fazer sua escolha, acabou sendo “escolhido”. Teve sua vida abreviada pela violência. Em última análise, uma vítima da omissão do Estado e da própria sociedade. 

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