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Achado não é roubado

Na eterna luta do bem contra o mal, pelo menos desta vez vence o bem.

Ia Aneldo Aguimar em sua caminhada matinal para lugar nenhum quando depara com uma bolsinha caída na área reservada para estacionamento. Segue adiante, que em tempos de pandemia não se pega nada perdido ou achado, mesmo que fosse uma nota de mil dólares. A curiosidade vence a cautela, e Aneldo pega o objeto perdido ou desprezado, resistir quem há de? Para seu total espanto, encontra mesmo uma nota de mil dólares!

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Bem dobradinha, parecendo estar ali há anos. Ou décadas, uma vez que essas notas foram impressas pelo tesouro americano em 1918. Aneldo volta para casa feliz com meu achado, fazendo as contas mentalmente – essas notas saíram de circulação em 1945, hoje devem valer uma nota! Exaustivas pesquisas na Internet revelam que ainda existem muitas delas por aí – nos cofres de colecionadores, não em bolsinhas esquecidas dentro de bolsas ou bolsos, correndo o risco de serem perdidas e jamais devolvidas. Mas a consciência lhe dói – quem disse que achado não é roubado com certeza não perdeu nada.

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Aneldo passa dias indisposto, não dorme, não come direito. Manter – e tentar vender – a nota seria um ato desonesto ou pura opção de sobrevivência? A televisão está quebrada, um dente precisa de canal, a geladeira tem andado mais vazia que cela de figurão. Quem mantém uma nota de mil dólares por pelo menos 76 anos, com certeza está em melhores condições do que ele. Na eterna luta do bem contra o mal, pelo menos desta vez vence o bem.

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Aneldo anuncia no site do condomínio: “Achou-se algo importante. Será devolvido a quem puder definir o objeto perdido e o invólucro onde estava depositado”. Adeus sossego. A síndica vem exigir que a coisa encontrada seja depositada no cofre do condomínio, de onde só sairá para as mãos do devido dono. Mesmo tentando se manter incógnito, Aneldo foi identificado e onde vai tem gente atrás, tentando decifrar a charada. Ah, as coisas que as pessoas perdem! O telefone tilinta o dia todo…

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Olha, perdi um alto valor monetário, mas não lembro quanto nem onde estava embrulhado; Perdi meu anel de brilhantes. Descobri em tempo que o sujeito não presta, mas se não puder devolver o anel, terei que casar assim mesmo; Perdi meu salário… não sei qual a quantia, porque eles nunca me pagam o devido; Meu peixinho de estimação … tava num vidro de água azul; meu cartão de crédito; o bilhete premiado da loteria; a senha da conta dos meus bitcoins, uma fortuna; meu passe anual da Disney.

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Apareceu até um poeta: Olha amigo, se achou divide comigo. Tempos difíceis, tô no perigo. O tempo passa, a vida voa, e Aneldo numa boa: foi promovido no emprego e é sempre convidado para todas as festas e eventos no trabalho e no condomínio. Almoços em casa de amigos, jantares em restaurantes de luxo. Chovem presentes no natal e no aniversário; ganha brindes e recebe reembolsos de compras que não fez; descontos em tudo que compra. A nota de mil dorme tranquila no cofre do banco, valorizando enquanto espera…

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