Quanta diferença entre o senador Ricardo Ferraço (PSDB) de ontem e de hoje em relação à concessionária ECO 101. Em março deste ano, na reunião da Comissão Externa de Fiscalização da Câmara dos Deputados, ele levantou a bola para o representante da empresa cortar, ao sugerir uma série de justificativas para o descumprimento do contrato (principal demanda, a duplicação da BR 101): além da crise econômica nacional e de entraves em licenciamento, enumerou várias questões locais – estiagem; greve na área de segurança pública; paralisação da Samarco e dos projetos da Petrobras; e o fim do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap). Acreditava o senador, em tom muito ameno, que o cenário atrapalhou a concessionária a honrar seus compromissos. O tucano elogiou a “evolução evidente” em pavimentação, prestação de socorro e sinalização na rodovia para, logo em seguida, defender a repactuação. Ferraço tratava a questão, àquela altura, como mais um desafio a ser superado, e foi à comissão apenas para isso (não participava das reuniões). De lá para cá, a ECO 101 continuou a mesma concessionária omissa de sempre, escondendo-se por trás de alegações. Veio o grave acidente de junho, 23 pessoas morreram. A classe política começou a se coçar. Reunião aqui, promessa acolá, nada de concreto. Veio o acidente desse domingo (11), com saldo não menos devastador: onze mortos. Manifestações indignadas nas redes sociais, entre elas, do próprio Ferraço. Em tom, porém, oposto. Tratando a situação da BR 101 como insustentável, desta vez, falou de incompetência, falta de compromisso e terminou pedindo o afastamento da concessionária. “É um jogo de empurra-empurra e interesses que está custando vidas. Não dá mais. Chega! Basta!”. Acordou tarde, não, senador?!
Discurso e prática
Os capixabas querem saber, mesmo, o que o senador Ricardo Ferraço e os demais representantes da bancada, além do governo do Estado, vão fazer de concreto para resolver essa grave questão. Próxima de completar cinco anos de contrato, a ECO 101 não cumpriu nem 50% do plano de execução da rodovia. Medida urgente é a duplicação, que a concessionária agora se nega a fazer, mas a lista é extensa. Manda quem pode, obedece quem tem juízo?
Discurso e prática II
Também apareceu em cena, para tentar mostrar providências, o governador Paulo Hartung. Avisa que conversou com o presidente Michel Temer nesta segunda-feira, para solucionar os impasses na duplicação, e marcou outra reunião sobre o assunto, que “ocorrerá nos próximos dias”. Hartung fez o mesmo depois do acidente de junho. E aí?
Inadmissível
Aliás, no site da ECO 101 não tem, até agora, sequer uma nota de pesar aos onze mortos e demais feridos em estado grave do acidente desse domingo? É isso mesmo?
Sintomático
Cotado para uma candidatura ao Senado ou governo do Estado em 2018, o deputado estadual Sérgio Majeski (PSDB) usou o Facebook para uma cutucada básica. Divulgou sua foto em frente ao estande do Senado, na XVIII Bienal Internacional do Livro (Rio de Janeiro), nesse feriadão, com a seguinte legenda: “Achei sugestivo o fundo da foto”. Nos comentários, porém, a maioria fez apelo para Majeski disputar o Palácio Anchieta.
Filme repetido
Nos bastidores políticos, dizem que já existem ruídos entre o deputado estadual Amaro Neto (SD) e alguns colegas de plenário que assinaram o manifesto em apoio à candidatura dele ao Senado. A expectativa era sair em caravana junto com Amaro pelas bases eleitorais, reforçando o campo de disputa à reeleição no próximo ano, mas há quem diga que o deputado começou mal. Tem cumprido agendas sem fazer os devidos convites. Quero só ver…
Protetora, às vezes
Janete de Sá (PMN), presidente da Comissão dos Maus Tratos contra os Animais da Assembleia, está seletiva nessa bandeira que resolveu assumir. Em algumas situações, protesta, cuida, faz e acontece – principalmente se tem repercussão nas redes sociais. Mas quando envolve “peixe grande”…
Protetora, às vezes II
Só dois exemplos recentes citados aqui: a deputada se omitiu na votação do projeto que garantiria a proteção dos animais silvestres diariamente ameaçados em rodovias e ferrovias do Estado, que mexe diretamente com os interesses da ECO 101; e nada ainda de andamento na denúncia feita por servidores do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) de maus tratos promovidos pela diretoria do órgão a cachorros abandonados que frequentam a sede em Cariacica.
Efeitos
A vice-prefeita e secretária de Educação da Serra, Márcia Lamas (PSB), conseguiu reverter rápido seu afastamento das funções determinado em sentença judicial do último dia 24, resultado da investigação da Operação Moeda de Troca. Resta saber, agora, se deu tempo do caso respingar em sua imagem política, atingindo junto o filho, deputado estadual Bruno Lamas (PSB). Os dois têm planos para 2018.
Nas redes
“(…) Apenas um adendo. Acidente o cacete. Isso foi outro assassinato. Mais uma vez uma carreta carregada de granito, desta vez placas, da outra vez blocos inteiros. Eles deslizam e esmagam pessoas como se elas não tivessem história, amigos, família, sonhos, espírito. Como se não fossem nada (…). (Caê Guimarães- no Facebook).
PENSAMENTO:
“Quem pretende apenas a glória não a merece”. Mario Quintana
