O sonho americano é para os americanos
Com a volta de Donald Trump ao poder, está também de volta o suprassumo do que conhecemos como o idiota americano. Este é uma mistura de Maga (Make American Great Again), WASP (White Anglo-Saxon Protestant), Red Neck (Nuca Vermelha) e Jerk (Caipira).
Os Estados Unidos são divididos entre regiões mais cosmopolitas, tais como Nova Iorque, Chicago e Los Angeles, em que estes jerks são objeto de piada e de bullying, e as regiões onde estes chamados caipiras estão, que é predominantemente o meio-oeste (Mid West), onde representam a figura clássica do norte-americano alienado e idiota.
Tal alienação pode se misturar a tendências conservadoras, e mais adiante, adquirindo tons reacionários, xenofóbicos e racistas. A Klu Klux Klan, por exemplo, é um movimento de supremacia branca que surgiu nos anos 1860, no sul dos Estados Unidos, acabando uma década depois, por ato de uma lei federal, e ressurgindo com o sucesso do lançamento do filme O Nascimento de Uma Nação, em 1915, de D. W. Griffith, neste mesmo ano, agora mais no meio-oeste e no oeste.
Donald Trump é este norte-americano astuto, um populista que cai como uma luva para o norte-americano médio, sem falar nos abaixo da média, e que reverbera este ranço racista, xenófobo, da anti-diáspora, que coloca todo latino-americano em uma condição de banditismo, merecendo nada mais que as humilhações da La Migra e um retorno para o seu país de mãos abanando e maldizendo o “sonho americano”.
Donald Trump, com o Maga, quer resgatar este desejo de um Grande Estados Unidos, este cacoete meio que tese histórica ou ego narcisista de um “Destino Manifesto”, desde a Doutrina Monroe, que é este sonho de grandeza de nação, dos maiores e melhores do mundo, e que foi uma grande realidade no pós-guerra, mesmo com a ameaça da União Soviética, contudo, com a maestria de se tornar a maior indústria cultural do mundo, com o seu clímax sendo Hollywood.
Depois de um período de globalização, que foi uma espécie de Pax Americana, de ascensão de um mundo unipolar, em que o sonho do imperialismo nunca foi tão real, Trump agora enfrenta uma máquina de copiar, piratear e de potência comercial insana, que é a China. A China, que no mundo diplomático, alguns costumam dizer que “enquanto alguns não sabem o que querem, os chineses sempre sabem”.
O jerk é este americano médio, que almoça McDonalds, o Maga que passou do sobrepeso e flerta com a obesidade, o idiota que tem fetiche pela bandeira dos Estados Unidos, o grande símbolo norte-americano, de um país que se beneficiou como nenhum outro país dos acordos de Breton Woods, e depois, com a mudança para uma economia neoliberal, aproveitou o fim do padrão ouro e tornou o dólar a moeda conversível de troca de todo câmbio, o que autoriza aos Estados Unidos produzir uma dívida pública que pode ser alavancada como nenhuma outra, e que tem como um dos principais credores a… China.
O sonho americano é para os americanos, e não para os imigrantes, assim como é de César o que é de César, e não de um plebeu que busca uma vaga numa empresa de limpeza e faz uma faculdade para, quem sabe, ser uma das exceções que deram certo no país que é feito para os norte-americanos brancos. O fato é que latinos ocupam empregos baixos, e o movimento negro, por sua vez, depois da superação da segregação literal que durou até meados dos anos 1960, lida agora com a violência policial com atos impulsionados pelo “I can’t breathe”.
O idiota astuto de pele laranja representa o americano médio, que é o americano idiota. E mais idiota que o jerk, que ao menos tem bens materiais, uma casa e um negócio, e pode ter tempo para bizarrices do quilate de uma “máfia dos tigres”, de um Joe Exotic et caterva, temos os idiotas brasileiros, em comitiva, que deram com a cara na porta na posse de Donald Trump.
Eduardo Bananinha et caterva, contando, claro, com a incansável Carla Zambelli, na sua eterna mendicância pela aprovação do chefinho magnânimo Jair Bolsonaro, fizeram papel de palhaço na corte de Donald Trump, e pior, saíram em fase de negação, continuando o périplo de rematados sabujos de um presidente de outro país que, last but not least, não está nem aí para o Brasil, que para os Estados Unidos é tão irrelevante quanto a caricata e pretensa diplomacia de guerra de Lula na guerra da Ucrânia, que virou mais uma piada contada por Zelensky.
Por fim, existe este idiota americano, e agora temos seus imitadores no Brasil, com bonezinho do Maga, detonando um dos episódios mais ridículos da política brasileira, a guerra dos bonés, que se o doente em coma que Jô Soares fazia em Viva O Gordo acordasse, gritaria na hora: “Tira o tubo!”.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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