Alguns amigos dos tempos da ditadura militar, gente que em 1980 ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, afirmam que agora, no segundo turno, vão votar nulo porque “o PT nem partido reformista é”.
No primeiro turno, eles votaram num dos micropartidos de esquerda. Agora, repudiam as candidaturas de Dilma e Aécio por considerá-las comprometidas com a burguesia e divorciadas dos reais interesses populares. O PSOL, que recebeu 1,5% dos votos presidenciais de primeiro turno, saiu pela tangente com um “Aécio não”, mas sem nada dizer sobre Dilma. Ou, seja, sugeriu que se vote nulo ou em branco.
De acordo com os esquerdistas ortodoxos, que ainda se orientam pelo viés marxista-leninista vitorioso na Rússia em 1917, na China em 1949 e em Cuba em 1959, o PT não merece mais apoio porque fez ensaios e promessas à esquerda mas na síntese dos seus 12 anos de governo trabalhou essencialmente pela manutenção do status quo, garantindo lucros extraordinários para os rentistas enquanto distribuía migalhas para a maioria pobre.
É verdade mas, por insuficiente que seja, o processo de inclusão social praticado nos últimos anos pelos governos petistas reconectou o país com as políticas trabalhistas iniciadas por Getúlio Vargas nos anos 1930/40 e bloqueadas pelo golpe militar de 1964.
A Constituição de 1988 recolocou o trem nos trilhos da democracia, mas na prática dos últimos 25 anos tivemos dois grandes ciclos. No primeiro, com Collor e FHC, houve a abertura comercial para o mundo, a estabilização monetária, as privatizações de ativos estatais, com o respectivo fortalecimento de grupos privados nacionais e internacionais atuantes na economia brasileira. Quase todos concordam que foi um processo positivo que modernizou a economia, embora tenha deixado na beira dos trilhos milhões de pessoas sem eira.
Em seguida, como parte de um processo dialético, tivemos um segundo tempo com Lula e Dilma que levou o país a resgatar milhões de pessoas da degradação socioeconômica, ao mesmo tempo em que se multiplicavam investimentos e se obtinham lucros na agricultura, na indústria, no comércio, no turismo, na logística, na mineração, na educação, na saúde, na habitação. No momento, como decorrência da crise financeira internacional, a economia brasileira está num impasse.
Mesmo com distorções, a democracia está implantada, tanto que está chegando ao fim mais um período eleitoral.
Agora, no dia 26 de outubro, os brasileiros precisam decidir se prorrogam o tempo do PT e seus aliados “comunistas” ou se dão uma nova chance ao PSDB e seus amigos “neoliberais”. (Os rótulos entre aspas têm conotação pejorativa porque refletem ideias, formulações, esforços, tentativas e desgastes inerentes a dois modelos de gestão governamental).
Para o bem e para o mal, o “comunismo” e o “neoliberalismo” estão superados porque tentam se afirmar dogmaticamente como “pensamento único”, sem consideração pelo outro lado. Mas o confronto eleitoral se tornou inevitável.
Neste momento, o Brasil não tem como fugir da escolha entre os dois modelos de desenvolvimento representados por Dilma e Aécio. É a velha luta, no plano eleitoral, do trabalho x capital, esquerda x direita. O filme mais antigo da história do mundo.
Quanto a Dilma, ninguém parece ter dúvida de que, sendo reeleita, ela vai dar continuidade ao Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Pronatec, Prouni, Pronaf e outros projetos e programas de alcance popular. .
Quanto ao tucaninho mineiro, há indícios de que vai colocar em prática, novamente, o modelo de gestão monetarista, naturalmente concentrador de renda. Em nome da eficiência empresarial, podemos ter um novo surto de privatização envolvendo o Banco do Brasil, BNDES, BNB e CEF, Correios.e até a Petrobras.
Nesse contexto, não se compreende que os antigos adeptos da revolução proletária prefiram anular o voto. Afinal, entre Aécio e Dilma, quem está mais próximo de atender às necessidades e aos interesses dos trabalhadores?
Ambos de origem mineira, os dois candidatos presidenciais têm ligações históricas com o trabalhismo, Aécio pelo avô Tancredo Neves, Dilma por sua militância no PDT e no PT. Quem chegar lá, que saiba honrar a História.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Getúlio Vargas sempre acreditou, ao contrário dos marxistas, que o Estado existe para conciliar interesses e não para representar interesses de uma classe. Sempre foi um nacionalista, um progressista convicto”.
José Honório Rodrigues, historiador