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As faces do poder

Todo o poder emana do povo!

O exercício do poder revela contradições e dicotomias inimagináveis, somente uma análise desapaixonada e profunda pode se aproximar da verdadeira compreensão do “locus” do poder.

Há algum tempo, assisti um telejornal que reportava o domínio do tráfico de drogas num território por um homem tetraplégico. Fiquei um tempo com aquilo se refletindo em minha cabeça, até o questionamento fundamental…

Onde o poder é exercido por meio da violência, como alguém sem mobilidade poderia exercê-lo?

A primeira conclusão – pelo imediatismo ingênua e descartável – foi da posse de um exército particular. Contudo, aprendi com Hegel por meio da dialética do Senhor e do Escravo que, grosso modo, a realização do ser pelo desejo é mais que a satisfação do desejo em si, mas a forma de realizá-lo, principalmente se: de forma autônoma ou dependente do outro. Afinal, a dependência tornará o senhor escravo do servo.

Refinem o modo, buscando na obra Fenomenologia do Espírito uma compreensão mais profunda e, retornem ao debate comigo.

Desse “Rei do crime” em análise, quero saltar para a sociedade moral e analisar o poder político em nossa democracia.

O Brasil, novamente numa análise superficial, ingênua e descartável, acreditou no discurso moralizador construído a partir da Lava Jato e o Dr. Moro. Esse, serviu ao “poder”, para criação do “Mito”, que se tornaria o senhor.

Com o tempo e retomando Hegel, Moro se reconhece senhor e põe em xeque o Mito, que começa a des-Moro-nar. Como o “Mito” não era o verdadeiro senhor, mas escravo de seus servos, partiu em busca de um novo servo para sustentar seu comando e achou o Centrão.

Num primeiro despertar da consciência (se é que isso é possível, em se tratando dele!), o Mito fortalece seu servo com cargos, emendas, prestígio e poder, e volta a acreditar-se: senhor.

Mas, novamente o escravo se reconhece o verdadeiro senhor, e o Mito não consegue ser impresso.

Do crime ao crime, do poder da rua ou do gabinete, o verdadeiro senhor estará sempre travestido de servo, mesmo que o próprio não se perceba senhor.

Com esses dois casos a estudar, me parece que, mesmo frente a um gigante da Filosofia como o alemão Hegel, a sabedoria popular é que me traz respostas. Por isso vamos de “o grande” Patativa do Assaré:

O que mais dói!

O que mais dói não é sentir saudade
Do amor querido que se encontra ausente
Nem a lembrança que o coração sente
Dos belos sonhos da primeira idade.

Não é também a dura crueldade
Do falso amigo, quando engana a gente,
Nem os martírios de uma dor latente,
Quando a moléstia o nosso corpo invade.

O que mais dói e o peito nos oprime,
E nos revolta mais que o próprio crime,
Não é perder da posição um grau.

É ver os votos de um país inteiro,
Desde o praciano ao camponês roceiro,
Pra eleger um presidente mau.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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