Alzheimer, artrite, catarata? Nenhuma princesa conhece esses problemas típicos da terceira idade, embora já estejam todas na quarta ou quinta
Lindas, meigas, inteligentes, mas sempre maltratadas por bruxas cruéis e rainhas invejosas, as princesas dos contos de fadas são centenárias, embora consigam manter o vigor da juventude. Alguém sabe citar os nomes delas? Pergunte a qualquer pessoa, adulta ou criança, o nome da Bela Adormecida, por exemplo. Se alguém souber, dê-lhe um vidrinho de álcool gel. Não vale consultar o Google, eu já fiz isso pra você.
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Histórias como a da Bela Adormecida e o beijo despertador, Cinderela e o sapatinho de cristal, Branca de Neve e os sete anões, vêm de longa data, e encheram de sonhos a infância de muitas gerações. Inseridas primeiro no folclore popular, ganharam as páginas dos livros e chegaram ao cinema e à televisão, sem qualquer sinal de osteoporose ou ruguinhas em volta dos olhos. Alzheimer, artrite, diabete, catarata? Nenhuma delas conhece esses problemas típicos da terceira idade, embora já estejam na quarta ou quinta.
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As chamadas histórias da carochinha não chegaram até nós por acaso, nem foram transmitidas boca a boca através dos anos, como alguns vírus que andam nos atormentando. Nomes como os Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen também se tornaram parte do folclore e dos mitos por criarem ou pela feliz ideia de reunir, catalogar e divulgar esses belos contos infantis e juvenis perdidos no tempo. Não muito antenados com a realidade e baseando-se em fantasias e contradições, tinham um propósito claro: ensinar as futuras matriarcas que a bondade compensa, que beleza vem de dentro, e que mais cedo e geralmente não muito tarde, seu príncipe virá.
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Os contos de fadas tinham o propósito de preparar as jovens sonhadoras para o fim inevitável: deixar a segurança da casa paterna e adentrar um mundo desconhecido, por amor ao amor, para o bem da moral e da preservação da espécie. Mas quando a história é boa está sempre nos oferecendo outras leituras e novas interpretações: a Bela e a Fera nos ensina que quem ama o feio bonito lhe parece, ou que não devemos ser muito exigentes com o príncipe: ele vai mudar; a Bela Adormecida dormiu até a epidemia passar.
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Os sete anões também não estão ali por acaso: para que tudo dê certo, é preciso ter uma equipe preparada à disposição. Nunca entendi muito bem de onde apareciam tantos reinos com príncipes e princesas que nunca se viram, mesmo numa geografia tão exígua: sendo que o único meio de transporte era o cavalo, não deviam estar muito distantes uns dos outros. Outra lição? Em tempos incertos é melhor não ir ao baile. Fique na sua torre e deixe o príncipe lutar para chegar lá, pois dará mais valor ao seu achado. Os antigos chamavam de ‘arroz de festa’ quem estava em todas.
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O nome da Bela Adormecida varia em suas muitas versões. Disney se apossou da história e a chamou de Princesa Aurora, que nas versões mais antigas é o nome da filha – na prorrogação do tempo regulamentar, ou do beijo tradicional, a bela teve um casal de filhos. Em outras, Aurora é o nome da fada boa que a ajuda a princesa. Também se chama Thalia, na versão do francês Basiles, Rosamond ou Brier-Rose nas versões dos Irmãos Grimm, e ainda Rosa e Botão de Rosa. Bonitinha, né?
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A boa notícia da semana: O governo da Colúmbia Britânica, no Canadá, comprou um hotel de $18 milhões para abrigar os desalojados pela epidemia. Até agora eles já acomodaram 3.300 pessoas, entre elas idosos, indígenas, famílias de baixa renda, mulheres e crianças ameaçadas pela violência doméstica, estudantes e moradores de rua. Além de equipar os quartos do hotel, eles empregaram de volta os antigos funcionários, ajudando os pobres e a economia.