“É fora, é fora, é fora, é fora da lei, é fora do ar. É fora, é fora, é fora, segura esse boi. Proibido voar”
Houve uma transformação urbana de Recife, e foi na Cidade Maurícia (Mauritsstad, em holandês) onde ele mandou construir a Ponte do Recife, atual Ponte Maurício de Nassau. Foi neste evento que aconteceu a tal história do “boi voador”. O conde, além da inauguração da ponte, anunciou que ali um boi voaria. O objetivo era chamar a atenção do público para cobrir os custos da construção da ponte.
No dia 28 de fevereiro de 1644, o administrador cumpriu a promessa, e a versão mais aceita é que tal fenômeno foi produzido por cordas e roldanas, com um boi empalhado passando de um lado ao outro da ponte.
O domínio holandês na região durou 24 anos, mas foi bem marcante, pois Maurício de Nassau trouxe grandes progressos para Recife, que foi de povoado pequeno a se tornar uma cidade por causa de Maurício de Nassau.
Esta história do boi voador atravessou gerações e virou tema de uma das canções do musical Calabar – o elogio da traição, peça escrita em 1973 por Chico Buarque e Ruy Guerra. A música se chama “Boi voador não pode”.
A letra, muito bem-humorada, é a seguinte: “Quem foi, quem foi que falou do boi voador? Manda prender esse boi, seja esse boi o que for. O boi ainda dá bode. Qual é a do boi que revoa? Boi realmente não pode voar à toa. É fora, é fora, é fora, é fora da lei, é fora do ar. É fora, é fora, é fora, segura esse boi. Proibido voar”.
A marchinha carnavalesca de Chico Buarque, Boi Voador, composta para sua peça Calabar: o elogio da traição (1973), é sucesso popular e muito cantada no Recife. A letra, falando do proibido, era uma alusão à censura da ditadura militar. A história do boi voador foi relatada pelo frei português Manuel Calado (1584-1654), ele que foi testemunha dos acontecimentos que se deram durante o domínio holandês.
Frei Manuel Calado foi confessor de Calabar antes de sua condenação à morte, este que foi garroteado e esquartejado em 1635, tendo o frei convivido bem com Maurício de Nassau e com os holandeses invasores, mas na insurreição pernambucana, se voltou contra os holandeses, apoiando os colonos na expulsão dos invasores. O período em que houve o domínio holandês em Pernambuco durou, por fim, de 1630 a 1654.
Maurício de Nassau, diante dos desafios da construção da ponte, chamou atenção para o dia da inauguração da mesma em que um boi voaria. O boi vai voar! Recife preparou-se para a grande festa de inauguração da ponte, marcada para um domingo, dia 28 de fevereiro de 1644.
Nassau anunciou que um boi voaria pela ponte, e avisou qual seria o animal: o boi pertencente a Melchior Álvares, conhecido entre os populares por sua mansidão. A notícia correu os engenhos e arredores e muitos se perguntavam: “Seria possível um boi voar?”.
Durante o evento de inauguração da ponte, o boi voador ficou para o final, dez da noite, em que surgiram Melchior e seu boi, estes entraram num sobrado, reaparecendo na janela mais alta, e o boi foi saindo pela janela, com os populares que olhavam para o alto, e o boi foi flutuando no ar, passando pela cabeça das pessoas, fascinadas com a visão.
Os populares logo entenderam o truque, era um boi empalhado suspenso por cordas e movido por um sistema de roldanas operado por marinheiros holandeses. A ponte inaugurada por Maurício de Nassau se chamaria Ponte do Recife.
Primeira ponte de madeira sobre o rio Capibaribe, a Ponte do Recife já foi bem mais extensa do que é hoje, com uma obra de engenharia de ponta para a época, que incluía uma parte levadiça para a passagem de embarcações.
A ponte de madeira foi substituída por uma de ferro em 1865, que enferrujou, tendo sido feita outra de concreto armado, que recebeu o nome de Ponte Maurício de Nassau.
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Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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