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​Cadê as letrinhas?

Um filmaço, cheio de socos e tiroteio, e ele não entendeu patavin

Reprodução

Laulo Souto veio para Miami na leva de imigrantes trazidos pelas igrejas evangélicas tentando levar as palavras da Bíblia para os sobrinhos de um certo Tio Sam. Já faz tempo, e muitas outras vieram depois deles. Que eu saiba, nenhuma conquistou uma alma americana, mas sobrevivem na santa paz de Deus. Enquanto o sonho de todo brasileiro recém-chegado é conhecer a Disney, o sonho do Laulo era mais modesto – ir ao cinema!

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Nada muito complicado, que cinema tem em qualquer esquina e não seria preciso ir a Orlando e pagar hotel. Mas ele não queria um cineminha qualquer, nada disto! Queria ver um filme naquelas salas luxuosas, com poltronas reclináveis que sobem e descem com o pressionar de um botão – luxo que nem em casa poderia ter. O sonho não demorou a se realizar – presente no primeiro aniversário que passou ouvindo cantarem Happy Birthday to you.

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Mas qual não foi sua decepção quando, na imensa telona, a história começa a se desenrolar – Uê, cadê as letrinhas? Um filmaço, cheio de socos e tiroteio, e ele não entendeu patavin, mesmo já falando algum inglês! O filme não tinha legenda, ou seja, a tradução dos diálogos para o português! No cinema, Laulo? Quando os canais a cabo invadiram nossos lares trouxeram as legendas para todos os filmes – é só escolher em qual idioma queremos ler ou ouvir os filmes dublados. Mas só na TV de casa ou nos voos internacionais.

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Já trabalhei como tradutora de filmes legendados inglês – português e percebo a grande diferença entre os textos traduzidos para a TV brasileira e as traduções feitas para os filmes passados aqui. Como a maioria dos filmes eram – e ainda são – americanos, temos muita experiência em traduzi-los. Os diálogos são compactados para conter apenas o essencial, dando tempo da plateia ler enquanto o ator está falando.

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Como aqui vinham poucos filmes estrangeiros, a legenda não evoluiu. Elas não simplificam, e geralmente não dá tempo de ler tudo. E eles reclamam, não tem como ver a cena e ler as letrinhas ao mesmo tempo. A TV a cabo está mudando essa mentalidade, apresentando ótimos filmes do mundo todo – e não apenas dos países europeus, que já têm uma tradição de cinema internacional, como França e Itália. Outro dia vi um ótimo do Butão, quem diria.

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Como tudo muda enquanto o mundo gira, os seriados hoje estão desbancando os filmes, e os estrangeiros ficam no topo da lista. Na Netflix, a campeã é a Coreia do Sul, com dois entre os três mais vistos. Com boa dublagem, claro. Quanto ao Laulo, que hoje fala bom inglês e não precisa de letrinha, nunca mais foi ao cinema e nem vê filme na TV. Com três filhos pequenos, nem pode chegar perto.

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