Por que nos ocuparmos com a eleição americana, se já temos nossos próprios problemas no quintal de casa?
Estimada pessoa. Escrevo essas mal traçadas linhas por falta do que mais fazer para encher meu tempo. Tem muita gente reclamando que com o home-office não tem tempo pra nada, então as empresas estão lucrando, né? Erro de cálculo e conteúdo: Todo mundo trabalhando dobrado com salário reduzido. Enquanto isso, você se auto-exila numa floresta cor de rosa e me bombardeia com e-mails reclamando da falta de calor humano, da conexão ruim, do cenários sempre igual e ausência de conteúdo, das frutas apodrecendo no chão…aqui a gente está comendo até o caroço.
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Sei não, pessoa, a coisa complicou geral. Você queria votar novamente no Trump, como se uma vez já não fosse crime inalienável. Fica onde está, Mag. Por que votar no homem se o Colégio Eleitoral põe tudo ao contrário? Fiz uma pesquisa e descobri: 1) o Colégio só beneficia os Republicanos; 2) os Republicanos fazem tudo para atrapalhar as eleições; 3) por que nos ocuparmos com a eleição americana, se já temos nossos próprios problemas no quintal de casa? Imagina se essa moda pega no Brasil? Houve um tempo em que as pessoas podiam acreditar em tudo que ouviam.
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Você pergunta o que há de novo, mas tudo estará velho no dia seguinte: o vírus continua rolando e aquela história de imunidade de rebanho foi mais uma fake news. Mas não vamos culpar o Trump e o Bolsonaro, que muito antes deles Napoleão Bonaparte criou o DDNF – Departamento Disseminador de Notícias Falsas. Tendo que prestar contas do que fazia quando saía para guerrear como nós hoje saímos (ou saíamos) para ir à praia, ele exagerava nas bravatas, seus feitos eram sempre grandiosos, seus estratagemas perfeitos, suas investidas brilhantes. Dividia por 100 as baixas que sofria e multiplicava por 1000 as do inimigo. Quem iria sair pelas ruas contando quantos soldados voltaram, quantos ficaram para trás?
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Relatório de Napoleão Bonaparte: Informo que 200 mil prussianos perderam a vida na Batalha de Letkajhiawhhm. Como assim, Napoleão? A população da Prússia era de apenas 100 mil pessoas. Que nada, tudo fake news. Entra a mulher do soldado abatido: Sêo Napoleão, meu marido foi pra guerra dos Arc Vert com o senhor e até agora não voltou nem deu notícias. O nome dele, por favor? Maurice Bremongadieux. Ah, tá aqui nos registros, minha senhora. Capitão de brigada Maurice Bremongadieux se imiscuiu com uma prussiana e não volta mais. A senhora fica livre de qualquer vínculo, pois o desertor é considerado morto. Pode escolher um dos nossos soldados que esteja disponível. Napoleão não negou sua vocação para enredos adulterados, e até confessou para um repórter do Le Monde: “A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo”. Aplica direitinho na política, não?
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Quem entendia de governantes e governados era Maquiavel, que, acredite, nada tinha de maquiavélico. Ele disse:” O desejo de conquistar é muito natural e comum; e, sempre que os homens conseguem satisfazê-lo, são louvados, nunca censurados”. Outra frase que também se aplica às campanhas políticas. Quanto ao caráter humano, nem Shakespeare foi tão preciso: “Os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda do patrimônio”. O príncipe, como todos sabem, somos nós. Adeus, Magdalena. P.S. 1: o g no seu nome foi erro do corretor, e não da última reforma ortográfica. P.S. 2: Estando você em local incerto e inalcançável, essa missiva não será remetida.