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Começa o fuzilamento da ‘petralhada’

Assassinato de Marcelo Arruda ocorre em contexto formado a partir de declarações de Bolsonaro

O “vamos fuzilar a petralhada (…)”, como bradou Jair Bolsonaro em 2018, começou a se tornar realidade no momento em que, no sábado (9), em Foz do Iguaçu, o petista Marcelo Arruda caiu mortalmente ferido por três tiros disparados pelo agente penitenciário federal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho. O crime ocorre no contexto que se formou a partir da frase proferida pelo presidente da República – então candidato -, empunhando um fuzil-metralhadora, quando em campanha eleitoral, no Acre, tendo como símbolo a “arminha” celebrada por pastores e reverendos e uma penca dos chamados “homens de bem”.

Era setembro, quatro meses antes de ele assumir o governo e dar início à onda fascistizante no país, estimulando ódio e intolerância, por meio de ações autoritárias que incluem ensaios de golpe de estado, o mais recente com vistas ao próximo 7 de Setembro, segundo as previsões de bastidores e de analistas da mídia independente.

O alvoroço em que o país se encontra já era esperado desde o golpe de 2016, que dois anos depois o elevaria ao poder, estampado que sempre esteve na sua trajetória de parlamentar do baixo clero, sem projetos relevantes. Ao acolher a “arminha” e aceitarem, como ele declarou, que a ditadura militar deveria ter matado mais gente, todos sabiam do que se tratava: deu no mais escancarado saque que o Brasil já sofreu, com a perda de seus principais ativos, afetando profundamente a soberania do país, a economia, e levou o país aos lugares mais baixos entre as nações.

O clima geral, nestes três anos e meio de governo, é de uma violência cada vez mais focada no antipetismo, sentimento alimentado pela mídia comercial, a enxurrada de notícias falsas endereçadas a grupos de fanáticos desequilibrados, religiosos desinformados e à mercê de lideranças cujos interesses, por baixo da moral e dos bons costumes, estão em desacordo com a doutrina cristã e a democracia.

A máquina bolsonarista se espalha e os frutos já começam a configurar-se em atos de terrorismo, como o drone com fezes em Uberlândia e a “bomba de bosta” na Cinelândia, no Rio, lançados em manifestações do Partido dos Trabalhadores (PT), entre outros sinais de violência, a fim de gerar medo na população, já assustada pela perda de direitos sociais e trabalhistas e em meio ao crescimento da fome e da miséria. É a política da “arminha”, logomarca macabra do atual governo.

As táticas fascistas ancoradas no fortalecimento do autoritarismo, com o aparelhamento da máquina pública e implantação de uma pauta moralista e ultraconservadora, avançam sobre a sociedade, emparelhada com um Congresso submisso ao capital, no jogo do viciado da velha política, exemplificado nas emendas parlamentares, destituídas de qualquer sentimento ético. Basta ver a revelação do senador Marcos do Val (Podemos) de que recebeu R$ 50 milhões de emendas por ter votado no Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para presidente do Senado.

Mais um malfeito dos inúmeros que se encaixam na linha de pensamento de Hannah Arendt, a filósofa alemã que apontou a banalidade do mal ao escrever sobre o julgamento nazista para a revista The New Yorker, na década de 60. O conceito, criado no contexto histórico do nazismo, pode ser aplicado ao bolsonarismo, porque se constitui em atos banais, inerentes ao próprio indivíduo que os pratica.

Afinal de contas, não foi o chefe que disse “não sou coveiro” ao comentar as centenas de mortos na pandemia da Covid-19? Não foi ele também que, em tom de piada, imitou uma pessoa morrendo por falta de ar, e ainda que, ao se pronunciar, com atraso de horas, sobre o assassinato político de Marcelo Arruda, disse que não tinha nada com isso e demonizou, mais um vez, a esquerda?

Um dia antes do crime, Bolsonaro afirmara: “Não preciso dizer o que estou pensando, mas você sabe o que está em jogo. Você sabe como deve se preparar, não para o novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições”. O “mito” se dirige ao seu público, mantém o climão gerador de medo e de estímulo à violência, que só pode ser encarado com bandeiras de resistência democrática.

A barreira contra o fascismo, para ser forte, é necessário que ocorra nas ruas, nas casas legislativas e nas igrejas, nas redes sociais e por meio da mídia independente, nas mais diferentes formas, sem cair em ciladas de revidar com violência, e, é bom ressaltar, sem que haja recuos. Até que, e principalmente, seja garantido o voto de cada cidadão. A escolha se dará entre a barbárie e a democracia. Somente assim, o fuzilamento da “petralhada”, como defendeu o presidente, será evitado.

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