As regalias são as nossas mais cobiçadas formas de felicidade
Desde que Adão provou o tal fruto proibido e perdeu as regalias do paraíso, nós humanos pagamos por esse primeiro pecado com a inconstância das regalias – que veem e vão como plumas levadas ao sabor do vento. Como um treinador preparando a fera para distrair o respeitável público, nós também vivemos em constante treinamento – castigo pelo que fazemos errado, regalias pelo que fazemos bem feito. Nem sempre, mas quase sempre. As regalias são nossas mais cobiçadas formas de felicidade.
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Corremos pela vida atrás da felicidade, o Santo Graal dos nossos sonhos. Fugaz, ela flutua com ventos mais fortes – chega sem avisar e parte sem dizer adeus. Voa tranquila, depois de leve oscila, disse o poeta, e qual poeta não tentou de alguma forma descrever a felicidade? Esse instante sublime que habita os corações humanos, ora dorme, ora se faz presente. Se parte ou fica, depende da sorte de cada um. Dizem que nascemos com uma quota predeterminada de felicidade – pode-se dosar para que dure a vida inteira, ou desperdiçar tudo em um único sonho.
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“Se você quer ser feliz por uma hora – tire uma soneca. Se quer ser feliz por um dia – vai pescar. Se quer ser feliz por um ano – herde uma fortuna. Se quer ser feliz pela vida toda, ajude ao próximo”. Provérbio chinês, portanto, velho como o mundo. Hoje diríamos, Se quer ser feliz por uma hora – assista à televisão. Se quer ser feliz por um dia – vai pra praia. Se quer ser feliz por um ano – compre um celular novo. Se quer ser feliz pela vida toda – passe em um concurso público.
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“O homem tolo procura a felicidade na distância, o homem sábio a cultiva sob seus pés”, disse James Oppenheim. O homem feliz andava descalço, dizia o povo de antigamente; hoje dizemos que calça sapatos Ferragamo. Nem um nem outro, pois a felicidade é feita dos privilégios que devemos conquistar diariamente. Quietamente, como uma nuvem no céu, ou com fanfarras e estardalhaços, como uma onda no mar.
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Não há quem não aprecie o voo sinuoso de uma borboleta – um borrão colorido bailando no ar. Leves e soltas, elas transmitem uma sensação de felicidade absoluta. No entanto, não semeiam nem colhem, como os pássaros bíblicos. Não usam roupas de grife, mas se vestem com as cores mais brilhantes do sol. Vivem apenas de 2 a 4 semanas após deixarem o casulo, e morrem contentes, de morte natural – se não as matamos antes.
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Não há como descrever a felicidade, mas temos muitas provas de que ela existe. Pode não ser eterna, mas a infelicidade também não é. De um poema da poeta americana Priscilla Leonard: A felicidade é uma bola de cristal que despencou do céu e estilhaçou no chão. Todos correram para pegar um pedaço – uns pegaram mais, outros pegaram menos: “Quebrada está a bola perfeita, em tantos pedaços que ninguém pôde encontrar todos eles…”