As preocupações do governador eleito, Renato Casagrande (PSB), começaram muito antes das urnas do primeiro turno confirmarem sua vitória, em 7 de outubro. O anúncio pelo governador Paulo Hartung (MDB) de várias medidas adotadas a poucos meses do final da atual gestão, entre obras e aumento do custeio, fizeram acender o sinal de alerta.
A partir do envio à Assembleia Legislativa da Lei Orçamentária de 2019, o governador intensificou a realização de uma série de eventos para anunciar obras, convênios com prefeituras, reajuste salarial de servidores e abertura de concursos, entre outras iniciativas geradoras de despesas para o governo que começa em 2019.
Ao mesmo tempo, comemorava aumento acima de 7% na receita devido ao clima favorável no mercado internacional de petróleo e à política de reajuste fiscal implantada em sua gestão, com a qual diz ter conseguido equilibrar as contas. Mas, outro lado, cortou investimentos e ampliou o arrocho salarial dos 90 mil servidores do Estado.
Justamente os setores que agora, no final do mandato, o governo quer favorecer, porque tem que haver um grande final, com lugar de destaque no legado de realizações, seguindo o curso da história escrita sob a ótica individualista de quem está no poder.
O assombro do governador eleito levou sua equipe de transição a formalizar pedido à gestão atual sobre a forma de desembolso dos repasses às prefeituras conveniadas, a fim de evitar o pagamento em uma única parcela, o que poderia desequilibrar as finanças públicas já no início do governo.
Paralelamente, Casagrande negociou com deputados estaduais jogar a votação da Lei Orçamentária para depois de sua posse, já com a nova assembleia constituída, ampliando, por essa via, a perspectiva de operar cortes e adequar a aplicação de recursos à diretrizes traçadas no seu programa de governo.
Nesta semana, o governador Paulo Hartung anunciou obras de grande porte e convênios, além de investimentos em outros setores, e aumento salarial de 4,5% aos servidores públicos e de 10% no auxílio alimentação.
Esse auxílio, por sinal, foi cortado em 2006, no segundo mandato de Paulo Hartung, sendo alvo de processo judicial movido pelo Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos), com o objetivo de garantir valores referentes ao retroativo do auxílio-alimentação. Desta vez, o sindicato da categoria recorreu aos tribunais superiores contra a decisão do Tribunal de Justiça do Estado (TJES).
No final do mandato, Hartung faz a festa, na tentativa de colocar nova pintura na imagem desgastada de uma gestão marcada pelo descaso em relação ao funcionalismo público, em especial professores e policiais, motivando, é bom frisar, manifestações e a greve da Polícia Militar, com grandes prejuízos à sociedade.
A estratégia está posta, por meio de incursões a municípios, assinaturas de convênios, obras e concursos, para cobrir todas as áreas que ficaram à míngua durante seu terceiro mandato e mostrar serviço.
A sociedade espera, no entanto, que o governador atue neste final de mandato no sentido de manter as contas públicas em um patamar seguro, para que não haja escorregões decorrentes de atos mal calculados. Ou o discurso que tem repetido de uma “transição harmônica e respeitosa” é apenas “para inglês ver”?