A gente censurando o tradicional jeitinho tupiniquim dado na Copa do Mundo e em outros eventos que sediamos, quando se confia mais na sorte do que na eficiência, sem saber que muitos outros eventos mundo afora também precisaram de maquiagem para funcionar. Quem diria, até a Disney! O primeiro parque na Califórnia, inaugurado num domingo, em 1955, até hoje é conhecido lá entre eles como o Domingo Negro – tudo que poderia sair errado, saiu.
Oferecendo 20 atrações, a inauguração do parque seria apenas para a imprensa e convidados especiais, somando 14 mil pessoas, mas 28 mil compareceram – a outra metade comprou ingressos falsos. O evento foi televisionado para todo o país, transmitido pelos amigos de Disney em Hollywood: Art Linkletter, Bob Cummings, e ninguém menos que Ronald Reagan, então ator. A transmissão ao vivo pelo Canal ABC era constantemente interrompida porque as pessoas tropeçavam nos cabos expostos das câmeras e microfones.
Uma câmera flagrou Bob Cumming beijando uma dançarina. Em algum momento, posto no ar, Linkletter não conseguiu encontrar seu microfone. As figuras famosas programadas para comparecer a cada duas horas, vieram todas juntas. Com o inesperado aumento de ‘convidados’ os restaurantes ficaram sem comida. O calor de 38 graus não permitiu que o asfalto colocado na última hora secasse, e os saltos femininos afundavam. As damas não andavam de tênis nessa época. Um escapamento de gás forçou o fechamento de várias atrações.
Por causa da greve dos encanadores da prefeitura local, houve escassez de água, e Disney teve que escolher entre ter água nos bebedouros ou nos banheiros. Ele optou por banheiros limpos, e faltou água para beber, o que gerou uma publicidade negativa – a Pepsi era uma das patrocinadoras do parque, e os visitantes acharam que a falta de água fosse um golpe sujo para incrementar a venda de refrigerantes. Alguns pais atiravam os filhos sobre a multidão que aguardava a vez nas filas, para que eles entrassem primeiro.
Obviamente a imprensa arrasou com o evento. Disney convidou os jornalistas para uma segunda abertura, “mais apropriada”. Desta vez o sucesso foi imediato. As filas começaram às duas da madrugada. Com 50 mil participantes, o tráfico ficou totalmente congestionado na avenida que dá acesso ao parque. A primeira pessoa a comprar um ingresso e entrar no parque foi David MacPherson, com o bilhete número 2. O bilhete número um foi comprado com antecedência por Roy Disney, irmão e sócio de Walt.
A foto de Disney com duas crianças em um jornal fez com que elas fossem consideradas as primeiras visitantes. Ganharam ingressos para toda a vida. Percebido o engano, MacPherson também ganhou uma entrada cativa, que depois se estendeu para todos os parques Disney, no mundo todo. No primeiro ano, o parque recebeu um milhão de visitantes; em 2013, 16 milhões; em Orland, 50 milhões. No começo pagava-se uma entrada e ingressos extras para cada atração; em 1981 foi criado o ingresso único – $10,75 dólares para um dia/um parque. Preço de hoje: $96,00 dólares. Minha primeira vez na Disney foi em 1976, portanto, no sistema antigo – $6,00 de entrada e $7.00 para oito atrações. Volto lá?
