Direitos humanos exigem a luta dos verdadeiros humanos
A história constrói heróis e vilões no curso que a humanidade toma, mas cada momento é único e a grande diferença estará sempre na ação, afinal “o homem não está por trás da ação, ele é a ação!”. Contudo, além dos fatos que constroem a história, há também o contador da história e, vez que sabemos da inexistência de neutralidade, ela nunca será composta puramente do relato dos fatos.
Havia uma luta política, já vislumbrando a derrubada da ditadura militar no Brasil, durante a primeira metade da década de 1980. Os trabalhadores e estudantes nas ruas, numa política despida de pretensões e carreirismos, onde a diferença estava em muito trabalho, até braçal mesmo, produzindo panfletos em mimeógrafos, carregando e distribuindo nas movimentações de portas de fábricas, universidades, escolas, etc.
Para que acontecessem longas passeatas e aglomerações, eram necessárias madrugadas de intermináveis discussões, fundamentais à estratégia dos movimentos. Também eram necessárias as “estrelas dos eventos” com seus discursos afinados, numa cristalização de lideranças para o “grande público”, mas logo aprendemos que, para que o show acontecesse, alguém precisava “carregar o piano”.
Eram os “bagrinhos”, que usurpo da letra do companheiro Gilney Amorim Viana, eivados da consciência fundamental da luta maior, que deixavam sua marca sem identificação, só na ação mesmo.
Foi aí que conheci Isaías Santana, o Neguim (quando o carinho da alcunha, falava muito mais alto que o preconceito racial de nosso tempo), incansável nas tarefas e grande na capacidade de análise conjuntural, sem a menor vaidade. Daqueles que faziam a diferença na condução da luta como um todo.
O mundo girou, a ditadura caiu, a democracia se estabeleceu, e os quadros da luta se distribuíram nas instituições políticas do novo momento, alguns em cargos políticos eletivos, outros ocupando cargos em instituições públicas de projeção social e também financeira, mas o Neguim continuou idealista, enredou na luta pelos direitos humanos, uma luta necessária para a defesa dos humanos a que a sociedade não quer garantir direitos, com a visão de que direitos humanos é para “humanos direitos” e direitos são os que atendem a seus interesses.
Novamente o Neguim direciona sua ação à necessidade da luta, onde ninguém se projeta, mas pelo contrário, se põe à margem. Luta por aqueles que a sociedade como um todo “varre para debaixo do tapete”. Mas o Neguim, agora já um senhor, com família formada e com a felicidade dos bons, que influenciam sua prole à luta que importa.
Um de seus filhos, LULA ROCHA, poderia lhe permitir “aposentar”, seguro da continuidade da luta, tamanho a sua garra, clareza e disposição, mas, por motivos alheios à razão, partiu cedo, lamentavelmente num momento de obscurantismo da política, em que o retrocesso ético se fortaleceu, espalhando ódio, violência, discriminação, corrupção, mentiras e todo tipo de tirania.
É Neguim…não vai dar para se aposentar, voltemos à rua.
Sua ação será sempre resistência e os esgotos modistas desses oportunistas da ilusão mitológica não podem com sua garra e ideal.
A luta continua!
Lula Rocha presente.
Everaldo Barreto é professor de Filosofia