Novembro é pouco para o acerto
Racismo é preconceito ou discriminação motivada pela cor da pele ou origem étnica, que se torna discriminação social, baseada na falsa ideia de que a espécie humana é dividida em raças e que uma é superior às outras. Atitude depreciativa e discriminatória não baseada em critérios científicos e construída com o propósito claro de levar vantagem, uma vez que, do ponto de vista biológico, é incorreto falar em raças humanas.
Embora sejamos um povo miscigenado e diverso por natureza, as heranças do oportunismo dos colonizadores europeus estão explícitas na hegemonia de sua cultura estabelecida por aqui e na ocupação dos lugares privilegiados de nossa sociedade.
No início, a imposição se deu por meio da força, marginalizando o negro e o índio. Com o passar do tempo, as classes que ocuparam e, historicamente ocupam o poder, se utilizaram da posição privilegiada para constituir os “gostos” ditos refinados, os “modelos” de beleza, as “posturas” consideradas elegantes, dentre tantos outros “valores” que compõem as estruturas do nosso ethos.
Hoje as populações tradicionais, indígenas e as majoritárias – negros – acabam, forçosamente, absolvendo esses valores que os marginaliza e se, de alguma forma, conseguem escapar para a crítica deles, passam a lutar: no lugar e, muitas vezes, até pelo “lugar do branco”.
A perspectiva do antirracismo aborda o questionamento da situação frente a institucionalização e estruturação do racismo que, a rigor, o torna um problema ético. Mesmo considerando que existe uma lei federal que institui a obrigação do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, na maioria dos casos, a práxis escolar trabalha essas temáticas no mês de novembro, considerado o mês da consciência negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares.
Contudo, não adianta a escola trabalhar a conscientização voltada para o reconhecimento dos valores da população preta e afirmar a impossibilidade de raças humanas. Muito mais que isso, é preciso fazer o enfrentamento já a partir das salas de aula e motivar o engajamento na luta contra o racismo nas estruturas de nossa sociedade. Afinal, foram anos de construção do racismo como postura ética das pessoas chamadas “de bem”.
O combate ao racismo, ou a adoção da postura antirracista, precisa ter lugar privilegiado na escola, para que o cidadão seja formado com a responsabilidade de fazer esse enfrentamento, tão necessário para desconstruir o estrago que as classes dominantes brancas, durante muito tempo, trabalharam nessa construção odienta, de excluir os negros dos lugares de destaque e poder na sociedade e estabelecê-lo em seu papel “comum”.
Essa construção histórica covarde utilizou largamente a indústria cultural, colocando o negro nas funções subservientes, naturalizando os papéis não só servis, mas também marginais e agressivos.
Para a educação ser eficiente, é preciso evidenciar as contribuições do povo preto na história de nossas vidas, incluindo sua contribuição nas diversas disciplinas escolares e também incentivar formas de luta pela reparação.
Mais que uma data específica, mais que uma lição de reconhecimento trabalhada no mês de novembro, deve a educação como ferramenta de esclarecimento, conscientização e balizamento de conduta, centrar esforços continuados para a promoção da justiça social que localize o povo preto em seu lugar próprio na sociedade. Para tal, deixarei aqui o conselho de Darcy Ribeiro, quem efetivamente reconheceu o Brasil como uma terra diversa: “O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade e descaso”.
Everaldo Barreto é professor de Filosofia