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​Entre: emojis, reels e likes

Conectando mundos e separando corpos

A vida humana está cada vez mais conectada. Todos os acontecimentos são importantes e precisam ser reportados ao mundo imediatamente. Não só as notícias dos acontecimentos, mas a beleza e encantos das plantas, dos bichos, dos filhos, dos relacionamentos, das coisas que se compra ou ganha, dos resultados da reforma da casa, do emprego novo, dentre muitas outras coisas, com destaque ainda para as maiores bobagens traduzidas nos reels que inundam a internet e distraem internautas do mundo inteiro.

Essa vitrine da vida tem também a capacidade de popularizar as particularidades das pessoas e de vulgarizar a expertise das profissões. Não é incomum pessoas chegarem ao consultório médico, ou ao mecânico, “muito bem informadas” do problema e sua solução, depois de pesquisar em sites da internet da mesma forma que se sabe da vida e rotina das pessoas por meio de suas publicações nas redes.

As crianças, muito antes de serem alfabetizadas, aprendem a usar a voz no lugar da digitação e, rapidamente, passam a navegar com uma incrível desenvoltura. Quando chegam à escola, não conseguem compreender nem mesmo a necessidade de aprenderem a escrever manualmente. Na sequência dos estudos, entram em conflito com o movimento de entrega dos conteúdos, que já lhe são disponíveis na palma da mão.

Nas escolas de tempo integral, os alunos, pela “filosofia do NEM” promovidos a protagonistas de seus próprios aprendizados e carreiras (seja lá o que isto venha a significar), se exige, desde os últimos anos do fundamental, todo um malabarismo dos educadores, acima de tudo, desesperados pela atenção dos alunos na concorrência com o celular e fones de ouvido.

Poderia dissertar páginas para expor o frenesi do uso da internet, mas quero antes de mais nada refletir sobre os efeitos desta conectividade, principalmente em relação à saúde de quem usa e à aproximação e distanciamento das pessoas, umas das outras.

O fato de as pessoas estarem conectadas nem sempre significa que estejam próximas, até porque a conexão permite a sensação de proximidade só pelas notícias publicadas, pelo afeto simbolizado nos emojis, pelos “milhares de amigos” da rede social e pelos likes e dislikes no post da “vitrine” de cada um e cada uma. Na maioria destas relações, as mensagens digitadas, faladas ou simbolizadas dispensam o contato presencial, suprimem as palavras do olhar, do corpo e principalmente do rosto: “No rosto apresenta-se o ente por excelência” (Emmanuel Lévinas o filósofo da alteridade).

As novas mídias, propagando-se por meio da internet, mais contribuem na junção de pessoas separadas que na conjunção das mais próximas, digo isto com base na constatação de um hábito cada vez mais comum de se presenciar: pessoas da mesma casa, e às vezes sentadas à mesma mesa, se comunicarem por mensagens, ao mesmo tempo em que famílias espalhadas pelo mundo se cumprimentam todos os dias.

Penso que o uso do celular/internet já se tornou uma doença social, uma dependência da onipresença do aparelho, que chega a ser a última coisa que as pessoas vêm antes de dormir e primeira ao acordar, que não conseguem se separar dele nem um momento. É claro que quando nomeio como doença social e dependência, já trago a pista de que o problema é muito maior, rompe fronteiras inclusive morais e éticas, como o uso dirigindo ou durante uma conversa presencial, só por exemplos leves.

Como vacina a esta doença, com sintomas de epidemia, indico exercícios de abstinência que podem começar com uma hora ou um dia por semana, dependendo da gravidade da dependência.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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