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Estratégia na eleição na OAB

Disputa da Ordem dos Advogados é o primeiro ensaio com vistas às eleições do próximo ano

As próximas eleições para a Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB-ES) serão, induvidosamente, o primeiro ensaio com vistas às eleições do próximo ano. Ganhou volume na imprensa e nas redes sociais. Incomodou políticos ao mesmo tempo em que, por óbvio, os atraiu. Tudo hoje é muito análogo. Os métodos de publicidade são, em tese, os mesmos de todas eleições. Isso contribui para deixá-las parentes para o grande público. E não poderia ser diferente, pois os temas se resvalam e se encontram. Mesmo que os eleitores sejam advogados? Claro que não são coisas autônomas ou independentes. A família toda influencia, de uma maneira ou de outra, no voto do eleitor-advogado. Virou assunto do dia. O pai que conversa com a mãe, que, por sua vez, comenta com o filho/a.

Por exemplo, a OAB esteve no front da fusão das comarcas. Matéria eminentemente política no interior e que direta ou indiretamente pede a participação do espectro de convivência do profissional. O atual presidente, José Carlos Rizk, que se confrontou com o Tribunal de Justiça, soube captar eleitoralmente a matéria para si. No final das contas, decisões judiciais, daqui e dali, serviram de material programático de sua campanha para reeleição. Aprendeu a entrar na boa: um fracasso não lhe prejudicaria.

Aliás, há três anos, afirmei aqui nesta coluna, que Rizk pretendia ser o “novo” na política capixaba. Rogério Medeiros, que buscava freneticamente um nome para análise, entre Paulo Hartung e o governador Renato Casagrande, refutou. Logo depois me procurou e disse que eu tinha razão. Acho que você acertou”, disse. Rizk começava a trilhar o caminho que poderia ser o novo político surgido no ventre da OAB. Casagrande, de antena ligada, registrou a especulação.

Bem, o tempo passou. Rizk acreditou e saiu em busca de sua pretensão. Traçou pautas e fez política o tempo inteiro do seu mandato que se encerra no final do ano. Mas, por enquanto, no âmbito da advocacia. Não entro no mérito se as políticas foram boas ou ruins. Habilidoso, enfatizou os temas, selecionando-os, nada que pusesse respingar num julgamento ideológico e, portanto, que lhe trouxesse desgastes.

Como um experiente político, transformou as subseções da OAB em feudos seus, bases de sua campanha. Trouxe adversários para seu lado, geralmente jovens ambiciosos, e, paralelamente, tentou preservar amigos. Há poucos dias foi visto no Palácio Anchieta, com o governador Renato Casagrande, comemorando um eventual aumento da remuneração dos advogados dativos. Temas escolhidos para lhe trazer prestígio eleitoral. Assim se apresenta. Fazendo campanha 24 horas por dia.

Por outro lado, o seu adversário com história, que trabalha no espaço aparentemente mais ideológico, é Homero Mafra, embora a candidata de frente, puxando a ala, seja a advogada Erica Neves, que foi secretária-geral adjunta da OAB-ES. Faz campanha com o slogan: “A Ordem que a gente quer tem que ter a sua cara”. Pretende gestão inovadora, transparente e participativa. Quer trazer um novo conceito para a OAB, pois acredita que Rizk estaria postergando as lutas ideológicas. Principalmente num momento em que a própria democracia vive riscos, com um governo federal autoritário e incompetente.

Por fim, a candidatura do advogado Alexandre Rossoni, mais veemente, se apresenta também com um crítico da gestão atual e procura, com temas mais enfáticos, desfazer tudo que Rizk teria consolidado no seu mandato. Acredita que os advogados são vítimas de projetos pessoais e que a advocacia vem “há mais de uma década em franca decadência moral e profissional”.

Faz parte do jogo democrático. Com tudo isso, claro que Rizk sai bem na frente. As subseções, esmagadoramente, lhe ancoram, servem de base eleitoral, depois de um trabalho de três anos.

O interessante, porém, é que as chapas tentam também um caminho seguro para trazer ao debate os temas políticos, como a atuação do presidente Bolsonaro e o fracasso dele nas pesquisas. Homero Mafra, mais experiente e que não tem nada de bobo, articula engenharia sofisticada para colar a imagem de Rizk na do presidente. Sabe que nesse lado do campo ele não vai. Quer dizer, com isso, que não se pode perder de vista a missão institucional da OAB de, entre outras, defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social.

A oposição quer debater, por exemplo, para fugir das pautas de Rizk, ascensão das fake news no governo Bolsonaro. Acham que os temas falam mais alto no momento. No entanto, os seguidores de Rizk, a rigor, entendem que o presidente nunca fugiu à luta, principalmente com a história de seu passado.

Ao mesmo tempo em que convocam o favorito Rizk para o debate, os opositores elaboram, nesses trinta dias, um trabalho inspirado em Guimarães Rosa, ou seja, como se fosse “um vaga-lume lanterneiro que riscou um psiu de luz”.

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