Eu voto, você vota, eles votam – mas cadê os líderes?
Dever cívico ou direito inalienável, um bem do povo para o bem do povo… a eleição no Brasil virou uma exigência burocrática: você cumpre sua obrigação ou perde seus direitos. Ou seja, se não obrigarem ninguém vota. Aqui o rio sobe morro – se obrigarem ninguém vota. Êta povinho complicado!
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O grande dia das grandes decisões políticas não é feriado nem cai no domingo – você tem que ir votar e depois correr para o trabalho. Se o chefe for bonzinho pode até não descontar o atraso. Mas as opções são generosas – votar pelo correio ou votar antes. Nunca depois. Pode ainda levar seu voto em mãos – uma maçaroca lacrada em envelope 28 x 24. Nós, reduzidos a dois ou três x x x, não entendemos esse processo. Êta povinho arretado!
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O voto é um direito do cidadão, conquistado a duras penas. E põe pena nisso! Para votar no Obama, passei um domingo inteiro em baixo de chuva e sem almoço numa fila quilométrica – a eleição seria no dia seguinte e temia-se que houvesse represálias, ou que não desse tempo para todos votarem. Resultado – no dia seguinte não tinha ninguém nas urnas – todos haviam votado antes. Êta povinho teimoso!
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Artistas famosos compareceram a vários locais de voto no domingo, mas não dei sorte – não conhecia nenhum dos que visitaram a minha fila. Foi a última vez que o povo em massa foi motivado a ir às urnas – daí pra frente só deu sopa fria. Também vai longe o tempo em que um candidato mobilizou o país como aconteceu com Obama. Êta povinho arredio!
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Eu voto, você vota, eles votam – mas cadê os líderes? Muitos foram chamados, poucos foram escolhidos. O povo cumpre seu dever de votar para o bem da democracia – o votado não cumpre seu dever de administrar para o bem do povo. E tome escândalos e falcatruas, desvios de verbas, obras inacabadas ou nem começadas, fake news – governar hoje se resume a falar mal dos adversários. Êta povinho distraído!
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Não sou obrigada a votar, mas quero dar um bom exemplo. Sendo meio distraída, só lembro de votar nas eleições para presidente. Nos demais pleitos eu preencho a papelada, selo o envelope – e esqueço de mandar. Depois de cada eleição recebo uma cartinha informando que minha percentagem de participação nas urnas está muito baixa. Ah tá, prometo melhorar. Êta povinho alienado!
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Pensamento da semana: Quantas árvores são derrubadas a cada eleição para garantir o voto impresso?