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Fadiga de material

Quando chegou à Câmara dos Deputados, em 1999, Magno Malta descobriu que as CPIs poderiam lhe render visibilidade e, consequentemente, votos. A primeira que presidiu foi a do Narcotráfico. A estratégia parece ter funcionado. Em 2002, Malta de elegeria senador pelo PL com mais de 867 mil votos. O baiano de Macarani manteve a CPI como bandeira eleitoral. Tentou ganhar destaque no Senado com a CPI da Pedofilia. 
 
Novamente de certo. A referência de inimigo número 1 da pedofilia foi revertida em votos na eleição de 2010, lhe garantindo mais oitos anos no Senado, naquela ocasião foi eleito, já pelo PR, com mais de 1,2 milhão de votos. 
 
Mas a missão de assegurar um terceiro mandato consecutivo no Senado não é nada simples, o processo eleitoral vai se afunilando e, no caso de Malta, percebe-se uma fadiga de material. Entretanto, a perspectiva de uma disputa dura em 2018 levou Malta a insistir na fórmula que vem dando resultado nas urnas. Em agosto, o senador propôs a CPI dos Maus-tratos contra Crianças e Adolescentes, uma variação da Pedofilia, mas com o escopo mais amplo.
 
O colegiado, explicou o presidente à ocasião do lançamento, se proporia a investigar casos relacionados à violência contra crianças, sejam eles crimes de abuso sexual, trabalho escravo ou outros crimes cometidos na internet.
 
Quando propôs a CPI, Magno Malta não imaginava que duas exposições artísticas poderiam lhe dar a tão desejada visibilidade conquistada com as CPIs do Narcotráfico e da Pedofilia. Cerca de um mês depois de instituída a comissão, explodiria a polêmica em torno da exposição Queermuseu, em Porto Alegre. Duas semanas depois, o nu de um artista no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) foi a cereja no bolo do senador, que viu a oportunidade de usar a CPI dos Maus-tratos para assumir o protagonismo nas discussões.
 
A estratégia do senador foi convocar, ou melhor, pedir a condução coercitiva dos envolvidos nas duas exposições. O primeiro na lista de Malta foi o artista do nu do MAM. O circo de Malta foi armado, mas o espetáculo não aconteceu. O ministro de Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, frustrou os planos do senador ao barrar a convocação do artista pela CPI. 
 
Inconformado, na sessão do dia 9 último, Malta decidiu fazer barulho para não deixar sua CPI cair no esquecimento. Montou um novo “espetáculo”. Ele não podia perder mais tempo. Levou ao plenário um acusado de pedofilia. O senador iniciou o tribunal inquisitório impaciente. Perguntou ao preso algemado. “O sr. foi abusado na infância?”. O detento admitiu que sim, mas que não queria falar sobre o assunto. O senador insistiu, queria arrancar o depoimento para apresentar o criminoso como troféu a qualquer custo.  
 
A conduta truculenta de Malta para arrancar, na marra, uma confissão, assustou os membros do colegiado. Eles iniciaram um movimento, ainda velado, pôr fim à CPI de Malta.
 
Os parlamentares já notaram que a CPI é uma obsessão do colega do PR, que faz sentido apenas para ele, que aposta todas as suas fichas na nova CPI que poderá elegê-lo senador pela terceira vez consecutiva. A comissão, porém, está fadada a ser enterrada, sepultando com ela a esperança de Magno Malta de se eleger com mais uma bandeira do oportunismo. 

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