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Família em 2º lugar

O candidato Paulo Hartung é no mínimo contraditório, para não dizer inescrupuloso. Quando o seu principal adversário ao governo do Estado Renato Casagrande (PSB) passou a acusá-lo de misturar dinheiro público com interesses pessoais para beneficiar familiares e amigos, o ex-governador subiu nas tamancas. Disse que o tom do discurso estava descambando o nível do debate. E tratou os ataques à sua família como “desespero” do rival. 
 
Na verdade, Hartung, antes mesmo de entrar na disputa, tinha convicção de que o embate franco poderia sujá-lo de lama. A estratégia foi defender a tese de que, em respeito ao eleitor capixaba, seu foco seria sempre em propostas e projetos. À medida que Hartung disparava como favorito nas “pesquisas amigas”, repetia a tese de que os ataques do adversário eram infrutíferos e o eleitor estava reprovando a estratégia do socialista.
 
Enquanto reivindicava o papel de candidato civilizado, logo nos primeiros debates Hartung passou a questionar a capacidade de gestão do seu sucessor. Repetia que deixou o Estado pronto para dar um grande salto, mas que esse salto, por causa da ineficiência de Casagrande, não aconteceu.
 
Enquanto Hartung esteve na posição de franco-atirador, os ataques eram considerados “debate de ideias e propostas”. No dia 1 de setembro, em entrevista à TV Guarapari, com a participação de Século Diário, Casagrande reagiu finalmente e cobrou publicamente, pela primeira vez, explicações de Hartung sobre as passagens aéreas emitidas para ex-primeira-dama Cristina Gomes com dinheiro público. Com os números na ponta da língua, ele disse que a mulher de Hartung viajou mais de 80 vezes para o Rio de Janeiro e para São Paulo à custa dos cofres públicos. 
 
A partir desse dia, Casagrande voltaria a cobrar explicações sobre as viagens da mulher de Hartung em outros debates e entrevistas que ocorreram em setembro. 
 
O escândalo das viagens da ex-primeira-dama foi publicado com exclusividade por Século Diário em 14 de agosto. Nesta sexta-feira (3), mais de 45 dias após a publicação da primeira reportagem e mais de 30 dias após Casagrande abrir o assunto, Hartung resolveu contra-atacar. 
 
Desesperados com a queda nas pesquisas e cientes do estrago que o escândalo das viagens causou em sua campanha, os estrategistas de Hartung julgaram que era melhor o candidato “arrumar” uma nova versão para o episódio. A ideia seria defendê-lo perante os eleitores que estão falando pelas ruas que a mulher do candidato do PMDB fez turismo com dinheiro público. 
 
Em matéria de página inteira publicada nesta sexta (5) no jornal A Gazeta, o advogado José Roberto Santoro tentou provar a inocência da mulher de Hartung e, por tabela, do próprio candidato, responsável por autorizar as viagens com dinheiro público. Santora tentou passar sua cliente para a condição de vítima, avisou que vai processar o candidato do PSB por calúnia, injúria e difamação. 
 
O advogado alegou que Cristina, na função de coordenadora do projeto Cais das Artes, fez as viagens para o Rio nos fins de semana para atender a uma exigência do museólogo e crítico de arte capixaba Paulo Herkenhoff, que é o curador do projeto. 
 
Os argumentos usados pelo advogado não convencem. Hartung e Cristina omitiram que o filho do casal morava na Cidade Maravilhosa neste mesmo período. E que as “viagens de negócios” nos fins de semana sempre incluíam pernoite. 
 
Santoro também não pôde explicar as viagens que Cristina fez ao Rio antes de Hartung sonhar em construir o Cais das Artes. O projeto executivo é do final de 2007, mas a ex-primeira-dama já viajava para o Rio desde 2005, provavelmente não era para discutir com Herkenhoff um projeto que ainda não existia.
 
Faltou o advogado explicar também as viagens para São Paulo. E informar que a filha do casal mora na capital paulista há cerca de oito anos, o que poderia ser uma boa motivação para levar a ex-primeira-dama 46 vezes para São Paulo. 
 
A estratégia de Hartung mostra bem perfil do candidato. O ex-governador primeiro se queixa da “baixaria”, alegando que o adversário “jogou baixo” ao passar a atacar sua família, mas ele mesmo usa a mulher para limpar sua barra. Ele já havia escalado Cristina esta semana para que ela tentasse explicar as viagens que fez para o Rio. A ex-primeira-dama até se esforçou. Partiu para o sacrifício para ajudar o marido e aceitou fazer o papel de atriz de novela mexicana para tentar convencer os eleitores que estava trabalhando por uma causa justa e nobre: o Cais das Artes. 
 
Não colou. O recurso de pedir espaço na Gazeta na antevéspera das eleições foi uma última jogada para tentar apagar a imagem que ficou fixada para o eleitor – que o ex-governador usou dinheiro público para financiar o turismo particular da mulher. Pior, a manobra mostrou, mais uma vez, que para salvar sua pele Hartung é capaz de jogar a própria família na lama.

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