É claro que o interesse de todo tirano é eliminar ou reduzir cada vez mais a filosofia na educação básica
Às vezes atinge bons patamares de compreensão, como aconteceu quando o Conselho Federal de Educação (CFA) abriu a possibilidade de retorno da disciplina no Ensino Médio, afastada desde a ditadura militar, determinando que, ao final dele, todo estudante deverá “dominar os conhecimentos de filosofia e de sociologia necessários ao exercício da cidadania”. Embora o bom texto, não tem garantido, no contexto, seu efetivo reestabelecimento.
Lamentavelmente, seus efeitos nos adolescentes e jovens turvam o céu de brigadeiro que interessa aos governantes tiranos em seus absolutismos, que sempre preferem a subserviência dos rebanhos. Contudo, por força da luta de grandes pensadores da educação, apesar dos abalos, a Filosofia vem resistindo, até aos confrontos fundamentalistas do atual governo, e se encontra hoje na grade do Ensino Médio.
Assim vamos, para além da superfície, mergulhar na reflexão nos reais benefícios do ensino de Filosofia, não só no Ensino Médio, mas em toda a educação básica. Para tal, vamos nos firmar em visões já estabelecidas como a do CFE, citada acima, ou da Unesco na Declaração de Paris (1995) “Julgamos que o desenvolvimento da reflexão filosófica, no ensino e na vida cultural, contribui de maneira importante na formação dos cidadãos, no exercício de sua capacidade de julgamento, elemento fundamental de toda democracia”.
Essas visões, superiores aos interesses mesquinhos de governos regionais, nos falam claro, mas podem ainda ser superadas em seus nobres propósitos, nos levando a considerar a utilidade da Filosofia inclusive para crianças e pré-adolescentes do Ensino Fundamental, seres vulneráveis a todo tipo de tirania, abusos, violência doméstica e subjugação. O desenvolvimento de suas capacidades de julgamento pode lhes trazer a possibilidade de autodefesa à exposição de agressores.
Algumas experiências têm demonstrado sua efetividade, embora o confronto aos poderes das instituições como escola, família e igreja, dentre outras, que se querem soberanos, sejam sempre empecilhos às tentativas de implantação, vez que essa capacidade de julgamento, refletida nas organizações de grêmios estudantis, nas divergências de ordenamentos familiares autoritários retrógrados ou imposição de verdades absolutas, requerem um ouvido e um diálogo horizontal, que essas mesmas instituições negam a esses considerados “ainda não seres”, mantendo-os presa fácil aos tiranos.
Além de tudo isso, o contato precoce com a Filosofia ajuda na formação de uma criança educada para a cidadania, que refletirá um adolescente engajado, um jovem crítico e um cidadão tolerante, autônomo e protagonista, capaz do enfrentamento à tirania e ao empenho na construção de um mundo melhor.
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. Platão