Daqui a pouco estarão lendo até nossos pensamentos
O relógio no pulso me informa que estou atrasada para alguma coisa, não sei o quê nem quando. Relógio é um termo arcaico para definir o objeto que algumas pessoas ainda carregam no pulso, porque esse pequeno instrumento de medir o tempo de há muito deixou de ser tão simplório. Leitores atentos do nosso corpo e alma, eles registram e informam tudo que acontece dentro e fora do nosso invólucro cutâneo: Chuva forte às duas da tarde…Seu colesterol está muito alto… Também aceitam chamadas telefônicas.
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Tornaram-se tão intrometidos que preferimos ignorá-los: Sua mãe ligou duas vezes… Hoje você deu apenas 1.451 passos, precisa se mexer mais… Batidas cardíacas aceleradas quando a nova assistente passou por você! Como os modelos precisam ser atualizados a cada ano, daqui a pouco estarão lendo e transmitindo até nossos pensamentos – Juro que não estava me referindo a você quando pensei esses xingamentos.
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Meu pai tinha um relógio de bolso, um Omega atado a uma corrente dourada. Quando ele estava em casa o relógio ficava pendurado na parede. Meu sogro tinha um autêntico Patek & Phillipe que ainda existe, lacrado em algum cofre. O tradicional relógio de pulso que usamos por muitos anos foi criado pela Patek & Phillipe, em 1868. Santos Dumont os popularizou ao encomendar um deles à Cartier, em 1915, chamado Santos Dumont.
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Outro brasileiro famoso, Paulo Coelho, disse: Não existe nada completamente errado no mundo. Mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia. A frase não é criação dele, mas a popularizou. Isso foi nos tempos em que as pessoas se preocupavam com as boas maneiras: Não fique olhando para o relógio, é falta de educação com o orador. Evoluímos, e hoje nos preocupamos mais com a boa forma: “Não fique olhando para o relógio, faça como ele, mova-se!” (O pensador).
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]Outro relógio com paternidade famosa é o de parede, criado em 1595 por Galileu Galilei, importante físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano. Ele disse: “Nunca conheci um homem tão ignorante que não pudesse aprender algo com ele”. Nada a ver com relógios, mas achei legal. Modernos ou antigos, os medidores de tempo estão tão arraigados ao nosso cotidiano que não imaginamos a vida sem eles. Mário Quintana: “O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família”.
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Houve tempos em que o relógio mais cobiçado por decoradores e colecionadores era o de parede de comprovada nacionalidade alemã, trazidos pelos imigrantes pomeranos. Passa o tempo e o contratempo, corre o vento, e eles não erravam na nobre obrigação de registrar segundo a segundo a passagem dos anos – o que não acontecia com relógios de outras procedências. Fosse o cuco ou o de pêndulo, de passarinho ou de pastorzinhos.
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Antigamente os ponteiros do relógio empurravam o tempo: os dias demoravam a passar. Hoje um mostrador luminoso nos empurra, o despertador nos acorda, a sirene avisa, e o tempo encurta cada vez mais. Cadê o tempo que estava aqui? O gato comeu!. Cadê o gato? Correu atrás do rato. Cadê o rato? Roeu o resto do meu tempo.