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Incertezas e desafios

Muitas ameaças pairam sobre a democracia, a cidadania e os direitos humanos

A única certeza que temos é que tudo está em permanente mudança. A sociedade está em transição, ainda não concluímos a passagem do Século XX para o Século XXI, e isso tem trazido incertezas e desafios à nossa democracia, ainda tão frágil, ao exercício da cidadania e da urbanidade, e também ao respeito aos direitos humanos, o que nos coloca dúvidas sobre nosso caminhar, se estamos em sentido da civilização ou da barbárie.

O exercício da cidadania e o respeito aos direitos humanos são uma escolha, uma construção e responsabilidade no caminhar civilizatório em busca de um bem-estar coletivo.

As relações entre os países estabelecidas a partir das transações de mercado, aliadas com a evolução tecnológica, têm afastado as pessoas e tornado as relações impessoais, o que dificulta a percepção das diferenças culturais, sociais e econômicas, e não apontam caminhos para o equacionamento das desigualdades, recentemente agravada pela crise sanitária e que tem nos mostrado a diferença no enfrentamento da pandemia entre países desenvolvidos e os ainda não desenvolvidos, por exemplo, entre o continente Europeu e o continente Africano.

Vivemos diversos choques culturais, que direta e indiretamente afetam nossa economia, política e cultura, o que nos afasta como cidadãos e seres humanos. As diversas crises como imigração, xenofobia, intolerâncias sociais, políticas e religiosas, financeira e o desemprego têm aprofundado as desigualdades e, para além disso, o meio ambiente e a biodiversidade estão em risco cada vez maior.

Com a evolução permanente da tecnologia digital, principalmente da internet, a comunicação por meio do abraço, do aperto de mãos, do olho no olho reduziu significativamente, ainda agravada pela crise sanitária, que com a pandemia as pessoas passaram a se comunicar mais pelos meios digitais, nas redes sociais, uma comunicação muito impessoal, um ambiente repleto de informações falsas e com diversas ameaças virtuais do ponto de vista ético, moral e financeiro.

No ambiente virtual, o compromisso com a verdade perde a importância para muitos. As mentiras e distorções da verdade são utilizadas ainda sem preocupações com as consequências para si e o prejuízo causado à sociedade, acreditando ser este ambiente livre das punições legais acobertados pela falta de regulamentação e ocultação da identidade do infrator. Esta situação ainda é agravada quando incautos e mal-intencionados multiplicam o problema compartilhando as informações falsas.

As contradições surgem quando percebemos a importância destes canais de diálogo entre os diversos atores da nossa sociedade e os seus riscos de mau uso por pessoas com interesses em distorcer a realidade para benefícios pessoais.

A evolução tecnológica ampliou o alcance da comunicação digital para a maioria da população, porém, ainda requer uma regulamentação, para que seu uso seja mais democrático e responsável, evitando as distorções que ainda ocorrem e trazem muita insegurança.

O desequilíbrio no mercado global tem provocado migrações em massa, em sua maioria no sentido do Sul para o Norte do planeta, em direção à Europa e à América do Norte, o que tem provocado intolerância e violência, causando mais insegurança, tanto para migrantes quanto para nativos, aumentando a tensão nos debates democráticos internos e externos.

Uma nova configuração política se redesenha, com a aproximação econômica e política entre a China e a Rússia, ampliando o potencial econômico e bélico do Oriente e causando uma crise na democracia ocidental, desestabilizando a economia mundial, que busca novas possibilidades de mercado, o que pode ampliar as ações autoritárias em detrimento da democracia e da soberania de diversos países envolvidos.

Enquanto a China apresenta sempre um crescimento de sua economia, os EUA e seus aliados estão com dificuldades para superar a estagnação econômica e resolver problemas como o desemprego, a pobreza e as desigualdades sociais, produzidas pelo capitalismo e seu mercado no ocidente, e quando a economia vai mal, a democracia diminui seu grau de importância nas nossas sociedades.

A democracia não é perfeita, principalmente no Brasil, e não é a solução para todos os nossos problemas, mas sem ela perdemos o direito ao exercício de nossa cidadania, que foi conquistado a duras penas, e também a oportunidade de debater coletivamente a correção das imperfeições. Sem democracia, não há cidadania.

Com a nossa capacidade política, devemos defender a democracia, a participação popular, com diálogos, combatendo os medos que as crises geram na população, principalmente a mais necessitada. Precisamos fazer a nossa parte, como um dos meios possíveis de avançar na construção de uma sociedade igualitária e plural.

As crises em nossa sociedade assumem situações de grandes proporções, cada uma em seu âmbito: a pandemia; a imigração, aumentando a xenofobia (aversão ao diferente); o populismo e o autoritarismo de extrema direita; a intolerância religiosa, política e social; a crise financeira, causando um grande desemprego; a desigualdade social e econômica, uma polarização entre poucos ricos e uma grande maioria de pobres; o risco para o meio ambiente e a biodiversidade; e a tensão de uma possibilidade de conflito nuclear entre Oriente e Ocidente.

Essas crises, em suas diversas dimensões, desfocam a percepção da sociedade brasileira sobre seus principais problemas e alteram sua prioridade na ação de cobrança das instituições responsáveis em suas áreas.

As pesquisas indicam que a nossa população percebe como os principais problemas a serem enfrentados a crise econômica e na saúde pública, o desemprego e o autoritarismo.

As crises existem de verdade, a nossa sociedade está em transformação, na vida nada é permanente, exceto a mudança, como já afirmava Heráclito de Éfeso, um filósofo pré-socrático, 470 anos antes de Cristo. Portanto, é dever de cada cidadão e cidadã ficar atento, não perder o foco em suas prioridades e interesses, e lutar sempre na defesa da democracia e na construção de uma sociedade mais igual, sem discriminação, fraterna e solidária. Uma sociedade humana para humanos, que respeite todas as formas de amor e de vida.

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