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Janjismo

Do tatibitate à falta de decoro, um caminho de ajustes

Janja conseguiu se superar neste último G20, realizado no Rio de Janeiro, mas tanto, que até o presidente Lula teve que dar uma reprimenda em defesa das negociações diplomáticas que estavam sendo acordadas entre as autoridades no encontro de chefes de Estado e seus representantes. No linguajar popular, Lula teve que apagar um incêndio, um fogo amigo, provocado pela primeira-dama.

O grau de deslumbramento com os holofotes, ao paroxismo da caricatura e da afetação, sobretudo em redes sociais, já conhecida de Janja desde que começou o governo, está diretamente ligada à sua irrelevância como quadro do Partido dos Trabalhadores (PT), isso antes de se tornar esposa de Lula. Janja, até então, era uma existência pálida e sem brilho dentro da burocracia do partido, nunca teve tônus de ter criado uma biografia relevante antes de se associar ao nome de Lula.

Certo que ela está ao lado do presidente desde os tempos bicudos de sua prisão, em que muitos dos aliados abandonaram o barco, ficando apenas os mais leais, tais como Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann. Este pode ser o ponto positivo, pois ninguém fazia uma aposta da volta de Lula à Presidência naqueles anos. Contudo, o comportamento de Janja, repetidas vezes, desde que os holofotes se voltaram ao casal presidencial, tem sido o de uma jeca com um ego suscetível, até infantil, o que se viu no epítome de afetação que culminou no fatídico “fuck you, Elon Musk”.

A própria intromissão de Janja no governo, objeto de reclamação por parte de ministros, é algo malvisto dentro da gravidade dos assuntos políticos, sendo que agora, no G20, isso ocorreu diretamente. O mal-estar dentro do governo com alguns comportamentos da primeira-dama vem, portanto, desde o começo, pois Janja está dando o seu showzinho, registrando a sua “saga” desde que Lula tomou posse como presidente em seu terceiro mandato.

A primeira-dama, que já está há muito tempo neste modo de lidar com seu posto como se fosse uma celebridade de reality show, fazendo posts superficiais, com bobagens de penduricalhos de rede social, não interessa a ninguém que esteja se informando sobre política no Brasil, somente a uma claque tão deslumbrada quanto a primeira-dama, que ama e odeia ícones na internet, uma súcia parva afeita à perda de tempo algorítmica.

Da inconveniência da figura, do tatibitate à falta de decoro, temos agora um caminho de ajustes de comportamento para que o governo possa caminhar com maturidade nas questões complexas, como a geopolítica, a economia e o meio ambiente, sendo tocada por pessoas ponderadas e sérias, o que desde que o governo começou, faz este contraste com Janja e seu deslumbramento kitsch, mais para boba da corte do que para primeira-dama.

A sala sendo ocupada por adultos nunca é demais, ainda mais depois de uma tentativa de golpe, e o que o governo Lula menos precisa, neste momento, é dar munição para a extrema direita, ainda mais por conta própria, com fogo amigo. Portanto, tem que se cortar este barato de colocações desnecessárias que não ornam e nem agregam já na raiz, no seu nascedouro. 

Não se pode vacilar, ainda mais por infantilismo ou desatenção, neste combate duro que tem sido o do Brasil democrático contra vivandeiras ressurretas através do bolsonarismo, o código atual de tradução do que foi o golpe de 1964, das conspirações pós-república velha, que vinham desde o suicídio de Getúlio e etc, e que têm como atual signo e catalisador o bolsonarismo.

O deslumbramento e a afetação têm a característica de serem postiças, isto é, antinaturais. O que se percebe, mesmo sem ser psicólogo de comportamento, com a simples prática do bom senso, é que a primeira-dama anda tão encantada, que talvez a ficha caia com a palavra do presidente. Quando isso começa a interferir nas mesas de negociação, acabou o recreio, acabou a babilônia, o chamado à maturidade política se torna imperativo.

Pode ser que Janja até então não tenha atinado, pois dentro de sua bolha, de sua claque, ecoam risos e aplausos, e Janja ouve aquilo como o eco de sua voz e um bálsamo em sua vaidade, que de suscetível que é, nos dá cenas caricatas, na fascinação jeca da fama barata, pega de carona.

Em essência, tal deslumbramento e afetação, são reflexos diretos de uma velha inconsistência biográfica, de uma pequena e pálida burocrata dentro do PT, e que agora dá suas cambalhotas com os trejeitos de uma xucra empolgada.

O fato é que tudo isso não é recreio, pois envolve assuntos de governo e de Estado. Portanto, precisamos de decoro, de contenção e de objetividade, para não cairmos na mesma grosseria que vivemos durante o governo Bolsonaro, em meio à uma carnificina pandêmica.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: http://poesiaeconhecimento.blogdspot.com

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