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Karla e a guerra ao atraso

Rebate de Karla Coser às agressões contra ela e Camila Valadão tem significado mais amplo

O discurso feito pela vereadora de Vitória Karla Coser (PT) nessa terça-feira (15), dirigido ao vereador de ultradireita Gilvan da Federal (Patri), tem um significado muito mais amplo do que simples desabafo em resposta às frequentes agressões verbais registrados na Câmara, que afetam também a vereadora Camila Valadão (Psol). Sua fala representa um basta ao atraso, ao despreparo e à brutalidade destrutiva, marca da política inaugurada com a subida ao poder de Jair Bolsonaro, de quem o vereador é aliado.


A vereadora afirma estar cansada de “perder tempo, “do desgaste emocional, da constante vigilância a troco de nada”, e ressalta que o vereador “é pequeno (…) e não faz ideia do que a gente representa; não tem a menor noção do que é ser partidário, do que é defender ideais inclusivos, do que é a política de verdade”.

A afirmação de Karla provoca o despertamento de que é tempo de guerra, não somente no leste europeu, onde Rússia e Ucrânia promovem a tragédia que aponta para uma nova ordem mundial. Os reflexos, que já são sentidos de imediato, afetarão gestões e ações parlamentares de atuais pré-candidatos, que a partir de janeiro de 2023 sentarão nas cadeiras para as quais serão eleitos em outubro deste ano. Portanto, é hora de escolhas, de olhar quem, de fato, poderá nos representar.

O momento é tenso e não há lugar para o despreparo, a falta de conhecimento, a improvisação e o vazio da mente, exemplo maior as agressões às duas vereadoras registradas na Câmara de Vitória pelo vereador que age em uma Câmara formada por maioria de homens, omissos em uma cumplicidade machista a demonstrar a atrasada política de gênero, como denunciou, dias atrás, a vereadora Camila Valadão.

No meio dessa cena, o presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), tenta os “panos quentes”, incapaz de mudar a situação, em decorrência da falta de autoridade, que o leva a não fazer uso de regras necessárias ao decoro parlamentar. E assim o barco político segue. Há guerras por todos os lados, a batalha protagonizada por Bolsonaro e seus seguidores, com alto teor de destruição na sociedade brasileira, e, também, as batalhas entre partidos políticos, envolvendo pré-candidatos e influenciadores interessados em garantir lugar na disputa eleitoral.

Sem ideologias ou projetos construídos de forma coletiva – e até sem projeto algum -, a romaria de candidatos despreparados avança, exibindo o DNA bolsonarista de atores da chamada nova política, no poder desde 2016, ocupado desde o Planalto ao Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras de vereadores.

A hora é de discernir entre bodes e carneiros, para usar uma expressão da hipocrisia religiosa, comum àqueles que avançam em agredir a quem pensa diferente, tendo como arma apenas – e somente isso – atitudes rancorosas e autoritárias, ao contrário do Deus que afirmam seguir.

O discurso da vereadora ocorre 37 anos depois do fim da ditadura militar, em 15 de março de 1985, e demonstra que o Brasil ainda sente resquícios do regime de força de 21 anos marcado por prisões arbitrárias, censura à imprensa e às manifestações artísticas, perseguições, torturas e mortes, e ainda distante do pleno retorno ao Estado Democrático de Direito.

O golpe de 2016, com a deposição a presidenta Dilma Rousseff e amarras aos movimentos progressistas criadas por setores ligadas ao período ditatorial, comprova que os artífices da ditadura ainda exercem plenos poderes. E avançam nas casas legislativas e nos mais altos espaços de poder.

É necessário visualizar um contexto em defesa do processo de disputa política de alto nível, sem agressões descabidas, a fim de que haja espaço para as conquistas sociais iniciadas na Constituição de 1988, tremendamente golpeadas a partir de 2016. É desse período a enxurrada de tipos indesejáveis na condução do processo político, a começar por Jair Bolsonaro.

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