O Índice de Transparência da Controladoria Geral da União (CGU) aponta que o Espírito Santo caiu da primeira para nona posição no ranking nacional que mede se os estados estão fazendo o dever de casa na aplicação da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Mesmo sem a confirmação dos números, o histórico dos dois mandatos de Paulo Hartung (2003 a 2010) revela um governo avesso à transparência. É fato que a LAI só passou a viger em maio de 2012 — Hartung deixou o governo em 2010 —, mas, mesmo antes da lei, já havia como avaliar o quanto um governante era mais ou menos comprometido com a prática democrática: transparência, participação popular e outras iniciativas que aproximam o governo do povo.
O Índice de Transparência divulgou seu primeiro ranking em 2010. Nesse primeiro levantamento — último ano do segundo mandato de Hartung —, o Espírito Santo ocupava a oitava posição. No levantamento de 2012, já sob a gestão de Renato Casagrande (PSB), o Estado saltou para a segunda posição; e em 2014, para a primeira. Na avaliação de abril deste ano, recuou para o nono posto.
Dois fatores explicam a queda, segundo a CGU: os pedidos enviados foram apenas parcialmente respondidos no prazo ou simplesmente o governo capixaba não respondeu o que foi solicitado a contento.
Mas não são apenas os indicadores que medem o nível de acesso à informação que vão dizer se o Estado é transparente ou não. Parte dessa avaliação passa pela percepção da população, que sabe exatamente o quanto a relação com o governante é fundamentada nos princípios da democracia.
Após dois mandatos de um governo que nunca buscou o diálogo com a sociedade civil organizada e com os poderes constituídos, Hartung se esforça neste terceiro mandato para “parecer” transparente. Só “Parecer”, isso mesmo, porque essa não é uma qualidade inerente a Hartung.
Na campanha eleitoral de 2014, o marqueteiro de Hartung deve ter alertado ao então candidato que a população o enxergava como um ser inatingível, onipotente, quase uma entidade sobrenatural. Esse era um aspecto negativo que precisava ser urgentemente trabalhado. Tanto é que toda a campanha eleitoral foi construída em cima do bordão do “abraça o Paulo”. A estratégia bem-sucedida do marqueteiro queria justamente derrubar esse muro que separava Hartung da população. Era preciso humanizar o candidato.
A campanha acabou, Hartung venceu e achou que já podia abandonar o personagem “Paulinho Povão”. Resultado, o governador voltou a erguer o muro que sempre o distanciou do povo. Hartung sabe, porém, que precisará retirar o personagem do aramário novamente. Isso se não quiser ver sua popularidade ameaçada. Hartung não vai se transformar num governante democrático e transparente, porque isso não está nele. Mas basta apenas “parecer”, como fez na campanha. Ou alguém acredita que Hartung estava se sentido realizado na campanha misturando seu suor com o do povão?
Não é por acaso que ele encomendou um novo perfil nas redes sociais. A equipe do governador mantém agora dois perfis Facebook: um sobre as ações do Paulo Hartung governador e outro pessoal, que quer mostrar que o Paulo é “humano”. Afinal, se aproximar virtualemnte do povão é mais a cara de Hartung. Função que, aliás, ele pode terceirizar à sua equipe.
Mas vai depender de uma boa estratégia de marketing convencer a população de que esse é um governo do povo, para o povo e pelo povo. Por enquanto, as primeiras postagens no novo perfil soam falsas e os estudos que medem a transparência do governo também desconstroem esse discurso democrático.