O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff e posterior encontro com governadores e prefeitos trouxeram alguma luz às lideranças políticas de sua base, que aparentavam estar completamente perdidas diante da nova realidade que se desenha no país.
Mas não foi só o governo que se manifestou. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também se pronunciou sobre o assunto, tentando isentar os tucanos da manifestação das ruas e canalizando todas as críticas ao governo federal e ao Congresso.
Embora todo mundo saiba que não é bem assim. Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, também se colocou a favor das manifestações e comentou a dificuldade em se tratar a Reforma Política por meio de uma Assembleia Constituinte, aprovada por plebiscito.
Nacionalmente a posição das lideranças mostra a tentativa de capitalizar com o movimento, de olho no jogo político do próximo ano. No Espírito Santo, o desafio será muito maior. Quando se fala em reforma política, coloca-se uma lupa sobre a questão do financiamento de campanha.
Se aplicada de forma séria e intransigente, a reforma política desmantelaria todo o sistema que mantém o arranjo político capixaba. Aqui o poder econômico não só financia, mas atua em parceria na elaboração dos planos e metas do governo. O ES-2030 é um exemplo disso, a ONG empresarial Espírito Santo em Ação dá as cartas e o jogo é aceito pelo Executivo e pelo Legislativo.
O fortalecimento dos partidos pode ser um ponto de partida para uma mudança de consciência da classe política capixaba. Nos 10 últimos anos, o que se viu foi a substituição das bandeiras partidárias por uma política de concentração de poder nas mãos de poucas lideranças, um movimento homogêneo, suprapartidário e com interesses muito restritos.
Com uma estratégica parceria midiática, as informações que chegam até a população não refletem a situação real dos poderes e das lideranças políticas. Talvez por isso, o movimento popular no Estado tenha se concentrado na questão da Terceira Ponte e na mobilidade urbana de maneira geral. No Espírito Santo, a reforma tem de ir além do estabelecimento de regras eleitorais. É preciso uma discussão profunda do papel das instituições e das lideranças política. Um começar de novo.
Fragmentos:
1 – O Tribunal de Justiça do Estado (TJES) ainda não está no mesmo compasso do presidente da Corte, Pedro Valls Feu Rosa, que deu demonstração de sintonia democrática ao recepcionar os manifestantes na última quinta-feira (20).
2 – A Tribunal de Justiça rejeitou um recurso da Prefeitura de Cariacica contra a decisão de primeiro grau que considerou inconstitucional a lei municipal que instituiu escolha popular para diretor e vice-diretor das escolas da cidade.
3 – Mesmo com o próprio prefeito querendo deixar a escolha a cargo das comunidades, o Tribunal entendeu que a indicação deve ser do chefe do Executivo municipal. Isso não vai na contramão da democracia?