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Na hora do voto

Para que não se engane no exercício da cidadania, investigue as candidaturas

A importância do momento eleitoral muitas vezes fica apagada por opiniões tóxicas, dando conta de que “político é tudo ladrão”, “é tudo igual”, “não adianta nada votar” ou “eles só pensam no próprio interesse”, e coisas desse tipo. 

Naturalmente, uma população com pouco acesso à educação – 39 milhões de analfabetos funcionais, em dados de 2018, sendo que neste ano deve ter tido um substancial incremento – forma cidadãos e cidadãs que sabem o suficiente para valorizar subempregos e aceitar todo tipo de exploração, além de serem facilmente substituíveis. Exatamente essa camada da população não se atenta para as questões políticas, se deixa levar por um senso comum, que não tem nada de inocente, pelo contrário é funcional, age na intenção de manter o oba-oba, banalizando a democracia e desqualificando a atuação do cidadão e cidadã, para que atuem cada vez menos.

Para esclarecimento do voto, é preciso se inteirar das candidaturas, avaliando não seus discursos fáceis, mas as informações disponíveis sobre sua história de vida e atuação na sociedade, anteriormente a esta candidatura.

Com o uso mais popularizado da internet, informações estão facilmente disponíveis, bastando digitar em sites de busca o nome completo do candidato ou candidata para aparecerem seus feitos. Outra fonte segura é o site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), onde estão suas declarações de bens e suas fichas pregressas, com todos os processos a que respondem, além de seu partido, plano de governo e os partidos que se uniram a sua candidatura.

As informações precisam ser analisadas com senso crítico apurado, localizando os titulares das candidaturas em sua vida privada, verificando a relação do patrimônio construído com a realidade de sua vida. Numa eleição municipal, em que os candidatos e candidatas são da própria cidade dos eleitores e eleitoras, essa relação é bem mais transparente.

Também é fundamental cruzar as informações de seus patrimônios com os processos a que respondem. Na maioria das vezes, um patrimônio alto está diretamente relacionado com processos de improbidade administrativa, sonegação de impostos ou apropriação indevida.

Outra questão fundamental é a sua agremiação partidária e a aliança que formou. Como já disse, a eleição municipal é a preparação da estadual e nacional, e as forças políticas são as mesmas.

A minha insistência maior está ligada à identidade do eleitor ou eleitora com o candidato ou candidata, pois se houver uma distância muito grande entre a classe social de um e de outro, já poderá se desconfiar de que ele defenderá o interesse que sempre defendeu, em todos os ambientes que transitou, e que, se eleito, esse candidato ou candidata estará governando sob seu ponto de vista, tão distante daquele do cidadão.

A cidadania, no caminhar de nossa construção democrática, para muito além do exercício do voto, está na autodeterminação de ser dono, escravo e ao mesmo tempo senhor do Estado, numa visão iluminista, kantiana de estado, em que o cidadão participa da constituição da instituição Estado, com toda a responsabilidade na construção e execução das leis, a ponto de se sentir seu autor.

Para despertar esse sentimento, é preciso que os nossos representantes efetivamente representem o povo, que o povo se sinta pertencente àquele lugar de poder, e essa pertença se dê por total e mútua empatia. É preciso mais que conhecer realidades, ter experiência de vida nessas realidades.

Chega de candidato fake, que transita nas elites e quer representar o povo!

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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