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Não é igreja, é negócio!

Negociatas de religiosos e peça teatral constatam que o momento político do Brasil é caótico

Quando o pastor me disse que seu voto nas eleições deste ano será para candidatos comprometidos com interesses relacionados a posses materiais, “para ajudar a igreja”, que vão além da pauta moral de usos e costumes, como ele ressaltou, me dei conta de que nunca antes vivemos, como hoje, as palavras proféticas de Pedro, um dos companheiros de Jesus, segundo as quais “(…) por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas (…)”. No cenário político atual, a chamada igreja virou fonte de lucro e de vantagens pessoais.  

Mais assustador é que esse diálogo ocorre no momento em que vaza escabrosa conversa do ministro da Educação, Milton Ribeiro, revelando negociatas entre pastores e o governo federal. Desse modo, constato que, apesar do título de pastor, ele só ocupa o cargo não por sua condição intelectual e ética, mas por integrar o processo de nazificação que atinge o Brasil, a partir do golpe de 2014, com participação ativa de grande parte das chamadas igrejas evangélicas, preciosa base de apoio do inominável presidente da República.

Estão mais para usurários negociantes do que para líderes religiosos, bajuladores em busca de ganhos materiais configurados em cargos comissionados, recursos públicos para suas empresas/igrejas e até barra de ouro, na mais pura transação imoral. O “vinde a mim todos vós que estão cansados e oprimidos” de Jesus, dado gratuitamente a toda humanidade, passou a ser mercadoria vendida a preços altos no balcão de negócios da falsa piedade.

Uma configuração plena da ética da infâmia descrita pelo filósofo Michel Foucault, na qual o discurso triunfalista pastoral gera a opressão, pelo medo, neutralizando o pensamento crítico, levando o indivíduo a aceitar a ação do opressor e até aplaudi-la, como ocorre em diversas congregações religiosas. “Bolsonaro se perdeu”, comenta o pastor, mas se apressa destacar: “Em Lula não voto e, se não aparecer outro, voto nele de novo”.

Nesse cenário bizarro e grotesco, surge em boa hora a peça El gran Circus Universal Sara Nuestra Carismática Tierra Plana y Quadrangular, do Grupo Z de teatro, o primeiro em formato audiovisual, que pode ser assistida no YouTube e merece aplausos pelo talento dos atores, muito bem dirigidos, mas também pelos diálogos criativos e acertado enquadramento de cena.

De autoria de Fernando Marques, também responsável pela direção, tem Carla Van Den Bergen na assistência de direção, Patricia Galleto, figurinos; Francina Flores Câmera, edição e fotografias; Esteban Bisio, intérpretes-criadores Alexsandra Bertoli, Daniel Boone, Eldon Gramlich, Ivna Messina e Patricia Galleto, com participação especial de Dani Boon, e identidade visual e produção Executiva de Luiz Carlos Cardoso.

Com produção esmerada, a peça mostra de forma bizarra o “cabaré” brasileiro envolto na onda neonazista do governo federal, em meio a mais pesada manipulação religiosa, estimulada por criminosos que agem em nome de Deus. Um Deus diferente do que é apresentado na Bíblia, o “Livrão” na peça, elemento utilizado para neutralizar todo e qualquer pensamento crítico e, assim,  manter as “ovelhas” de pastores usurpadores dos ensinamentos de Cristo.

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