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​O abandono urbano

O descaso do poder público alimenta o nível de degradação do espaço em zonas importantes da cidade

A perda de espaços como o Centro Cultural Carmélia Maria de Souza, na região de Santo Antônio, e os galpões do antigo Instituto Brasileiro do Café (IBC), em Jardim da Penha, Vitória, revela mazelas do poder público, enraizadas de tal forma na sociedade que a impede de enxergar claramente questões diretamente relacionadas ao bem-estar do cidadão. Os dois exemplos dizem respeito à cultura, e, por isso, para muitos parecem coisa de pequeno valor. 

Enganam-se os que assim pensam, pois, além de relegar a um plano inferior setores entre os mais importantes em qualquer sociedade, contribuem para ampliar o abandono urbano, que pode ser observado sem muito esforço não apenas nesse setor, mas de forma generalizada em áreas outrora valorizadas, hoje degradadas pela ausência do poder público. O Centro de Vitória confirma essa afirmativa.

As alterações das leis a partir da Constituição de 1988, pressionadas por transformações sociais, supostamente para garantir direitos, ainda muito distantes do razoável, ainda não conseguiram modificar comportamentos como era esperado, de forma mais intensa junto a gestores encarregados de zelar pelo patrimônio da comunidade.

Vale registrar, também, a postura de entidades representativas de setores significativos na estrutura social, silenciosa quanto ao problema durante anos. Manifestam-se somente quando a questão já se encontra em fase adiantada de agravamento, como é o caso dos galpões do IBC e do Centro Cultural Camélia Maria de Souza.

Prestes a serem leiloados e destinados a outras finalidades, muito diferentes das projetadas originalmente, esses equipamentos urbanos são acolhidos por entidades, como o Instituto dos Arquitetos, entre outros, em movimentos cujo desfecho dificilmente será positivo, levando em conta as decisões já tomadas. Os leilões estão às portas, previstos para novembro, e dificilmente serão suspensos.

O caso do Centro Cultural Carmélia Maria de Souza é mais representativo desse abandono. Jogado às traças pelo governo do Estado, o antigo prédio passou para a Prefeitura de Vitória e hoje se encontra em situação caótica, com as instalações internas destruídas e sem nenhum projeto em andamento, de forma concreta, como ocorre com outros prédios da zona central da cidade. São muitos os casos, entre estes, a sede do Clube Saldanha da Gama, que desde 2018 permanece com o destino incerto, apesar dos anúncios divulgados.

Exemplos de degradação do espaço urbano são muitos, na mesma dimensão do descaso assumido pelo poder público em todos os níveis, federal, estadual e municipal. A ausência de vontade política alimenta, desse modo, um cenário propício à formação de núcleos de moradias improvisadas, sem a coordenação do Estado, cuja presença se dá apenas para oprimir, no permanente, cruel e desumano processo de higienização social.

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