A eleição de Joe Biden nos Estados Unidos tem muito a ver com a votação do próximo domingo (15) e gera significativo impacto na sucessão presidencial e na escolha dos deputados estaduais, federais e senadores, daqui a dois anos, no Brasil. A rejeição a Donald Trump quebra, aqui e no restante do mundo, uma das fortes bases do autoritarismo e afeta o crescimento de movimentos embalados no ódio fascista, cujos reflexos já se fazem sentir em governos comandados por grupos de extrema direita, como o de Jair Bolsonaro e seus seguidores em estados e municípios.
O baque de Trump engrossa a onda de insatisfação, caminhando a passos largos para um isolamento cada vez maior de Bolsonaro, com drástica redução de sua influência na sociedade. Esse cenário está configurado nas candidaturas apoiadas por ele, como a de Crivela, no Rio, Russomano, em São Paulo, Capitão Assumção, em Vitória, e a do Subtenente Assis, em Cariacica, que derretem na preferência do eleitor.
O mesmo modelo de discurso, com a exibição do nome e símbolos de Bolsonaro, não motivou o cidadão, decepcionado de forma generalizada, fora os cerca de 30% que ainda o apoiam, destaque para os evangélicos desinformados, e que já não atura o despreparo para o cargo, junto à ineficiência e bizarrice das ações de governo, colocadas à mostra na pandemia da Covid-19 e na subserviência vergonhosa do presidente às ordens estadunidenses, extremamente prejudiciais ao país.
O mundo poderá respirar mais aliviado, com maior abertura de diálogo na política de emigração, nos direitos humanos, na questão do racismo e no combate à pobreza, principalmente, e, com mais força, no retorno aos organismos de importância crucial para o futuro da humanidade, como o Pacto de Paris, para debater as questões ambientais, a Organização Mundial da Saúde e outros.
No entanto, não devem ser esperadas alterações significativas fora dessas áreas, em especial na política externa, considerando que os governos estadunidenses, historicamente, se apoiam em um gigantesco conglomerado de bancos, grandes empresas e, em plano mais amplo, na poderosíssima indústria de guerra. Nesse contexto, as dúvidas recaem sobre uma possível redução na postura imperialista que marca os Estados Unidos, país altamente belicista, o que explica a permanente guerra promovida em outros países, por meio de invasões militares ou a desestabilização de governos.
Assim ocorreu no Brasil, no governo de João Goulart, em 1964, que estabeleceu no país 21 anos de ditadura, e a deposição de Dilma Rousseff, em 2014, abrindo caminho para a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, com o alinhamento de instituições oficiais, inclusive parte das Forças Armadas.
Como a maior potência econômica e militar do planeta, o império do norte conta ainda com uma gigantesca base na industrial cultural, responsável por manter acesa a chama de defensor da democracia, da ética e dos bons costumes por meio de falsos e alienantes discursos, que afetam jovens e adultos desinformados.
Não por acaso, a bandeira norte-americana é desfraldada em eventos políticos de candidatos apoiadores de Bolsonaro, que seguem o fascínio do ídolo àquele país, endeusado, também, por espaços ocupados por evangélicos, que continuam apresentando o imperialismo norte-americano como possuidor das maiores virtudes.
Com Joe Biden haverá mudanças, mas a estrutura de poder seguirá intocável, apesar de alterações altamente relevantes no que se refere aos direitos humanos, resultantes da mobilização popular, que rejeitou o fascismo, com uma votação recorde de eleitores. “Lute para votar e mude o sistema votando”, disse uma mulher, negra, em meio a uma multidão em Nova Iorque, nas comemorações após derrota de Trump.
A frase assume uma importância ímpar e representa inspiração para cravar o voto, domingo próximo e daqui a dois anos, em candidatos que seguem na contramão de Trump e de seu vassalo Jair Bolsonaro. Desse modo, o autoritarismo e a política de ódio serão destronados.