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O avanço silencioso

Existe uma relação entre a Shell, a gigante anglo-holandesa de petróleo, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), a greve dos petroleiros, desde domingo passado fortalecida com os protestos dos caminhoneiros, o capitão-presidente e o consumidor, que paga um preço bastante elevado pelo combustível? 

A ligação existe e é muito forte, embora seja despercebida para a maioria. Envolve áreas importantes, não apenas para a economia, com a falsamente alardeada geração de emprego e renda, mas, também, a soberania do País. De um lado, trabalhadores, de outro, o patronato, aliado às corporações, como parte da engrenagem, atuando em várias frentes para manter a política de preços dos combustíveis e aumentar o lucro dos acionistas. 

Esses eventos afetam toda a sociedade, de forma extremamente intensa as famílias mais pobres, obrigadas a pagar R$ 70, em média, por uma botija de gás de cozinha. Estão amarrados ao poder econômico, por meio de lobbies geradores de políticas públicas equivocadas, atos de gestão distorcidos e mau uso do dinheiro.   

O encontro da Shell ocorre numa terça-feira (18), justamente na semana que antecede o Carnaval, época em que a maioria das pessoas está voltada para coisas mais amenas. Mas isso não importa, pois com o seu poderio e o lobbie da Findes desperta centenas de empresários e lideranças políticas, para colocar em prática a parceria firmada no final de 2019 com o Findeslab, um espaço que funciona no local onde seria construído o polêmico restaurante giratório, na Reta da Penha, e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-ES). 

A parceria representa para a Shell um investimento de apenas R$ 250 mil. Um pingo d’água se considerados os projetos da empresa para Brasil, onde é a segunda maior produtora de petróleo e segue em ritmo acelerado para dominar o setor, comprando refinarias colocadas à venda pelo governo, arrematando poços do pré-sal e aproveitando-se da política de destruição do Estado brasileiro praticada pelo capitão-presidente.  

Com essa característica, se coloca em campo oposto aos petroleiros e caminhoneiros, e, em consequência, à sociedade, que exigem o fim da Paridade de Preço Internacional (PPI) do governo, apontada por especialistas como uma das principais causas dos elevados preços dos combustíveis. A Shell opera como importadora e exportadora e obtém, como outras petroleiras, lucros exorbitantes, que pesam no bolso do consumidor, porque a paridade de preços tem influência direta nos preços dos combustíveis, inclusive o etanol. 

O foco do evento está fixado em duas vertentes, logística offshore e captura e abatimento de dióxido de carbono (CO²), para atender às pressões de investidores e legislações aprovadas em países mais desenvolvidos, com políticas ambientalistas mais rigorosas do que as nossas. A empresa está entre as maiores poluidoras do mundo, ao lado da Chevron, Exxon e BP, responsáveis por 10% de todas as emissões de carbono desde 1965.  

O Senai-ES será o responsável pela captação e desenvolvimento dos projetos, que serão avaliados posteriormente pela Shell Brasil. Comprovada a viabilidade, a empresa pode fazer novos aportes e firmar parcerias para a implementação. Ou seja, a petroleira avança para ampliar seus tentáculos, qualificando mão de obra para seus projetos e promovendo o discurso de mais emprego e projetos na área da inovação, setor que a Findes passou a cuidar com maior zelo.

Isso ocorreu depois de superadas por decisão judicial as irregularidades e os prejuízos causados com o mal projetado restaurante giratório. Vale a pergunta: quais são os resultados concretos, qual o valor investido em inovação e indústria 4.0 e o que mudou para a indústria capixaba? 

A produtividade melhorou, a competitividade cresceu? E o custo, a médio e longo prazo, para a sociedade e para o Sesi e Senai, de todas as fichas terem sido concentradas nessas áreas enquanto a principal atividade, a educação, parece ter sido deixada em segundo plano? 

A considerar os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os resultados da indústria capixaba não são nada bons. A queda acumulada de janeiro a novembro de 2019 alcança 14,9 %, o pior resultado do País.

 

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