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O caos do transporte público

Serviço é caro, de má qualidade, e inseguro para os usuários

Nosso transporte público é caro, sempre lotado, de má qualidade, inseguro, e quem o usa é discriminado por quem não precisa do serviço.

O sistema nos lembra até a época da escravidão, que foi legalmente extinta em 1888, há 135 anos, mas quando viajamos nos ônibus, onde trafega a maioria do povo trabalhador, com superlotação, veículos de má qualidade e viagens de duas horas, a realidade nos remete aos navios negreiros.

O transporte público, como a totalidade das atividades numa sociedade capitalista, está voltado exclusivamente para o lucro, sem nenhuma preocupação com as condições de conforto, segurança e acomodação adequada para os usuários, sejam eles idosos, com necessidades especiais, grávidas, estudantes ou crianças.

O povo trabalhador que precisa utilizar o ônibus, diariamente, conhece bem essas relações de desigualdade e violência implícita, quando seu ônibus circula pela periferia e subúrbios, onde mora a maioria dos usuários. Diferente das relações com o transporte público nos bairros nobres da cidade, a discriminação e o preconceito estão sempre presentes.

Uma sociedade onde o acesso à educação e à ciência é bem distinto e socialmente desigual, as práticas são sempre permeadas pela discriminação. Uns merecem o conforto e a maioria do povo é considerada como objeto, que pode ser tratado e transportado sem nenhum cuidado.

Pelas reações durante as viagens, nota-se a insatisfação com as condições dos veículos e a forma como são transportados. Normalmente, a maioria segue todos os dias em pé, durante as longas e desconfortáveis viagens que precisam fazer para cumprir seus compromissos.

É comum presenciarmos falhas mecânicas, seja na escada de acesso para cadeirantes, no sistema mecânico ou elétrico dos ônibus, além de acidentes, o que interrompem a viagem. Quem de nós, usuários diários, não se lembra de quantas vezes isso aconteceu?! Outro problema é a falta de segurança, inclusive contra assédio sexual e moral, no trajeto dentro dos ônibus e nos pontos de parada, em especial para mulheres, estudantes e crianças.

O desconforto faz ainda com que as viagens não prioritárias sejam evitadas para diminuir o sofrimento de todo dia, pois há uma diminuição dos ônibus nos feriados e finais de semana, o que impede o povo trabalhador, principalmente das periferias, de usufruírem as estruturas de lazer e cultura da cidade, o que não encontram em seus bairros.

No caso dos preços das passagens, somente uma pequena parcela de trabalhadores formais utilizam o vale-transporte, os informais e a maioria dos usuários não são beneficiados, por não terem um vínculo formal de emprego.

É necessário ressaltar, porém, que a maioria dos passageiros tem uma percepção positiva da forma profissional e segura de conduzir dos motoristas, que também sofrem, enquanto trabalhadores, os mesmos problemas.

A Grande Vitória, a cada dia, se torna uma metrópole, o que aumenta a necessidade da utilização de diversos modais de transporte além do ônibus, como aquaviário e veículos leves sobre trilhos, bastante utilizados nas grandes cidades, e um sistema de linhas de trens e o metrô de superfície. 
Quando se fala em linhas férreas, alguns se assustam e acham isso um sonho, porém se conversarmos com pessoas mais experientes, comentam que a região era servida por linhas férreas, com utilização de bondes, que transportavam passageiros do Convento da Penha até o cais de Paul, do centro de Vitória até Santo Antônio, Praia do Suá, Jucutuquara.

O que se percebe é que quem decide, pensa, organiza e executa o sistema de transporte público não o utiliza, o que afasta o sistema da realidade do povo. Ao utilizar o transporte público, o usuário deve sentir uma experiência agradável, se sentir bem e seguro.

É urgente um transporte público gratuito, seguro e de qualidade para atender a todos, sem distinção e discriminação de qualquer natureza.

Somos seres humanos, não mercadoria!

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