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O dia em que Hartung tremeu

Não é confortável para Século Diário falar de si mesmo. Há sempre o receio de derrapar na prepotência, na soberba. Se acontecer, adiantamos que não é essa a nossa intenção. Mas o momento exige uma manifestação do jornal, quase um desabafo, diante dos mais recentes ataques do candidato ao governo do Estado Paulo Hartung (PMDB).
 
O debate desta terça-feira (30) da TV Gazeta, como muita gente já disse de ontem pra hoje, foi marcado pela troca de acusações entre os dois candidatos que polarizam a disputa ao governo do Estado: Renato Casagrande (PSB) e Paulo Hartung (PMDB).
 
Durante o debate, sempre que tiveram oportunidade, Casagrande e a candidata Camila Valadão fizeram acusações graves contra o ex-governador. O PSOL de Camila, inclusive, entrou com uma ação na Justiça Eleitoral pedindo a investigação das denúncias contra o peemedebista, muitas delas desveladas por Século Diário. 
 
Tanto Camila quanto Casagrande, cada um na sua, usaram como munição as reportagens de Século Diário, que cumprindo sua missão de informar, revelou ao eleitor capixaba as mazelas do candidato do PMDB. No conjunto da obra, destaque para as viagens da ex-primeira-dama Cristina Gomes, que fez turismo com dinheiro público; o desperdício de R$ 25 milhões gastos na obra fantasma do posto fiscal de Mimoso do Sul; e a mansão em Pedra Azul, que foi omitida da declaração de bens do candidato entregue à Justiça Eleitoral.
 
Visivelmente nervoso, sem ter como se defender das acusações, Hartung passou a atacar a matriz das denúncias, no caso, Século Diário. A estratégia do candidato foi criminalizar o jornal para desqualificá-lo, ignorando o penoso trabalho de jornalismo investigativo que foi dedicado para apurar todos esses fatos. Confessamos que o trabalho foi árduo. 
 
Se Hartung criminalizou o jornal, a imprensa nacional (O Globo e Congresso em Foco, só para citar dois importantes veículos) se interessou pelas denúncias a partir das reportagens de Século Diário, o que mostrou que nossa apuração foi escorada em cima dos fatos. 
 
Os dois veículos, como é de praxe, se pautaram em Século Diário, mas fizeram suas próprias apurações e confirmaram os fatos. O Globo noticiou o escândalo da “mansão secreta”. Congresso em Foco foi além e publicou uma grande reportagem dando a “folha corrida” de Hartung. 
 
A repercussão das denúncias desveladas por Século Diário na imprensa nacional (é essa não é a primeira vez que isso acontece) é prova inconteste de que fazemos JORNALISMO, assim mesmo, em caixa alta. 
 
Ao contrário do que disse o candidato do PMDB, que não temos credibilidade, somos reconhecidos, primeiramente, por milhares de leitores em todo o Brasil. Eles podem concordar ou não com nosso conteúdo, mas não nos ignoram. 
 
A cobertura destas eleições é um exemplo claro de que mesmos os que não concordam conosco, preferem não nos ignorar. Os eleitores de Hartung leem o jornal todos os dias, muitos deles, desconfiamos, recrutados pelo próprio candidato, que diz que não temos credibilidade só da boca pra fora. Caso contrário, não se incomodaria tanto conosco. 
 
Mas para ter independência para publicar o que considera notícia, Século Diário teve que ser VALENTE, também em caixa alta, porque só nós sabemos o que passamos nesses oito anos de ditadura proporcionada pela Era Hartung. O então governador lançou mão de todos os recursos para aniquilar o jornal, que sempre foi um paralelepípedo em seu sapato. 
 
Logo que assumiu o governo, a primeira estratégia de Hartung foi tentar incluir o jornal no balaio dos seus mais novos inimigos que ele batizou de “crime organizado”. Não pegou. O então governador se esqueceu que estava mexendo com jornalistas de boa reputação, alguns, inclusive, reconhecidos na imprensa nacional. 
 
A segunda investida para eliminar Século Diário do mapa foi a asfixia financeira. Além de não pôr um tostão no jornal em publicidade, como se a verba pública fosse dele, Hartung aterrorizou os prefeitos que ousassem dar publicidade a Século Diário. Quem contrariou as ordens do então governador, sofreu o pão que o diabo amassou. 
 
Temos que admitir que a asfixia financeira por pouco não matou o jornal. Ficamos vermelho, roxo, mas sobrevivemos. Não fosse a determinação da direção em não desistir do projeto, Século Diário teria ido para as cucuias  há muito tempo. 
 
Frustrado, Hartung recorreu à sua arma mais poderosa: o Judiciário. O então governador, que sempre teve todas as instituições na mão, passou a “fabricar”, com ajuda de seus pares, uma enxurrada de ações na Justiça. 
 
Ao bater nos juízes de primeiro grau, as ações se transformavam rapidamente em condenações, quando subia para o Tribunal de Justiça, as condenações eram confirmadas num descarado jogo de comadres. 
 
A estratégia de Hartung matava dois coelhos com uma só paulada: tomava dinheiro do jornal nas indenizações por danos morais e passava a controlar editorialmente o conteúdo de Século Diário.
 
Como nos tempos dos anos de chumbo, o jornal, em pleno século XXI, estava sofrendo censura. Fomos impedidos de mencionar o nome de alguns magistrados em matérias; obrigados a retirar conteúdos do ar deliberadamente; e chegamos a sofrer censura prévia. 
 
Século Diário, porém, não se acovardou. Passou a encarar o Judiciário capixaba de igual para igual. Recorreu das decisões e levou-as às instâncias superiores (há várias ainda tramitando). Em agosto deste ano, em decisão histórica, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão dos efeitos da decisão liminar da juíza da 6ª Vara Cível de Vitória, Ana Cláudia Rodrigues de Faria Soares, que obrigou o jornal Século Diário a excluir cinco conteúdos (dois editoriais e três reportagens) relacionados ao promotor de Justiça capixaba, Marcelo Barbosa de Castro Zenkner. Na decisão, após ouvir todas as partes, a magistrada classificou como uma “interferência na livre expressão jornalística” o fato de a juíza ter ainda feito recomendações para futuras publicações. Na ocasião da decisão, as recomendações da juíza foram ironicamente chamadas de “manual de redação”. A ministra classificou as “recomendações” como censura prévia.
 
Essa derrota no Supremo foi simbólica para os planos de Hartung e seu bando. O ex-governador viu fracassar o seu mais diabólico e infalível plano de fechar o jornal com a ajuda da Justiça. 
 
Não podemos negar que a percepção de Hartung é de se invejar. Lá atrás, quando quis destruir o jornal, sabia que aquele modesto site noticioso, instalado numa sala mal ajambrada na Enseada do Suá, poderia atrapalhar seus planos. 
 
Quando decidiu entrar na corrida eleitoral deste ano, atípica, porque previa a polarização entre ele e Casagrande, Hartung, precavidamente, redobrou a atenção com Século Diário. Olha que honra, constávamos na lista negra de ameaças à sua campanha. 
 
Por mais visionário que se considere, Hartung, no entanto, não conseguiu prever a série de reportagens de Século Diário que roubaria a cena das eleições deste ano para governador.
 
A força do jornal ficou evidente no debate da noite desta histórica terça-feira (30). Foi o dia em que Paulo Hartung, diante das denúncias incontestáveis de Século Diário, literalmente, tremeu. 

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