A trajetória política do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) sempre foi marcada por manobras ardilosas, que costumam pegar de surpresa seus adversários ou até mesmo “aliados”.
Eleito como governo da continuidade, após o hoje senador Ricardo Ferraço (PMDB) ter sido riscado do páreo ao Palácio Anchieta na última hora, Casagrande, ao se tornar o candidato palaciano, selou um pacto com o ex-governador: eleição em troca da blindagem.
O socialista, e disso Hartung não pode falar uma vírgula, tem se mostrado, desde então, fiel ao trato. Não estamos falando de fidelidade de ocasião. Muito ao contrário, Casagrande tem se superado na defesa de Hartung. Podemos dizer que o governador se tornou uma espécie de escudo humano do antecessor.
Assumiu calado todos os “podres” do ex-governador, armados ardilosamente como bombas-relógio programadas para explodirem a partir de 2011 – início do governo Casagrande.
As bombas, depois de virarem denúncia na Justiça, passaram a ser identificadas por operações: Lee Oswald, Pixote, Derrama – só para citar as mais recentes. Outras não foram ainda “batizadas”, mas, pela repercussão do escândalo, já são famosas. É o caso dos incentivos fiscais para o Sincades; o Compete-ES; os R$ 25 milhões gastos nas obras do posto “fantasma” de Mimoso do Sul, que nunca saiu do papel; e por ai vai.
Sem falar das dinamites que foram incrustadas por Hartung nas áreas de saúde, segurança e educação, que quando explodem, é isso tem sido corriqueiro, costumam jogar graves estilhaços na imagem do governador.
Como Casagrande assumiu o governo aceitando a tese da “casa arrumada”, todo esse legado necrosado foi incorporado ao seu governo. Para a população, a violência, por exemplo, que tanto apavora os capixabas, “desde sempre”, é responsabilidade do governo Casagrande. A essa altura do campeonato, ninguém vai associar os resultados da violência ao governo Hartung.
Depois de se abrigar no escudo de Casagrande, o ex-governador começa a esboçar que pode ser dono de um palanque próprio em 2014, com Ricardo Ferraço como candidato a governador e ele a Senado, ou mesmo ele na disputa pelo Palácio Anchieta. Por que não?
A aproximação com o presidenciável tucano, senador Aécio Neves, as críticas veladas que Hartung fez ao governo, em entrevista à Rádio Cultura de Castelo – cidade natal do governador -, são evidências preocupantes para Casagrande.
Esses são apenas alguns sinais recentes dessa movimentação do ex-governador que faz lembrar a fábula do escorpião e do sapo. Aquela que o escorpião implora ao sapo para carregá-lo para a outra margem do rio. Depois de muita insistência, o sapo, desconfiado e bastante apreensivo, decide confiar no escorpião. Feita a travessia, já em terra firme, o escorpião aferroa o sapo. Quase morto, balbuciando, o sapo quer saber o motivo do ataque traiçoeiro. E o escorpião, impassível, responde: “É da minha natureza”.