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O fenômeno da uberização

O termo uberização se universalizou para definir esta nova economia de compartilhamento

O termo uberização, que vem do Uber, é deste aplicativo que se tornou o principal concorrente do táxi, que sempre teve o domínio do transporte pago de pessoas de carro, e junto com o Uber, veio o Cabify, e outros aplicativos.

O termo se universalizou para definir esta nova economia de compartilhamento e sem intermediários, sem uma empresa com empregados, mas num regime colaborativo de inscrição, cadastro e numa forma descentralizada que ganhou ares polêmicos, pois a chamada parte de empreendedorismo vendida como ideia principal deste novo regime de relação de trabalho, agora também é acusada de criar relações extremamente precarizadas que já resultam em novos protestos de entregadores de aplicativos de comida, por exemplo.

Uberizar virou um verbo para definir uma nova forma de gestão de negócios, na qual empresas utilizam a tecnologia para colocar consumidores e fornecedores em contato direto, o que configura um sistema em que os intermediários não atuam diretamente no processo, esta função se restringe a garantir apenas que os que procuram um serviço possam encontrar as pessoas dispostas a oferecer esta demanda.

A concorrência deste novo modelo de negócios com as empresas tradicionais é bem forte, pois ocorre um barateamento dos custos para os serviços destas novas plataformas, sem intermediários, pois o consumidor paga mais barato pelo serviço. Este modelo sem intermediários, portanto, é um serviço que ocorre sem burocracia, entraves, e funciona diretamente com um sistema de reviews e sistemas sofisticados de pagamento.

Este novo modelo de uberização também pode ser chamado de economia compartilhada. Aqui vemos um modo de trabalho em que há a troca entre as partes, com todas as pontas conectadas, mas sem ter, propriamente, patrões e empregados. Aqui podemos elencar, além da Uber, empresas como iFood, Rappi e Airbnb.

Mesmo que se propague a ideia de empreendedorismo e oportunidade de trabalho, ocorre de fato uma precarização de regime de trabalho, em que o trabalhador não tem vínculos empregatícios e trabalha por conta própria, tendo que ganhar por produção, o que, por outro lado, configura uma alternativa para usuários destes serviços e para os que trabalham nestas empresas.

Contudo, o que se coloca como precarização também envolve ausência de direitos trabalhistas, em que estas empresas não possuem responsabilidades ou obrigações em relação a seus “parceiros cadastrados”, que é como estas empresas nomeiam seus prestadores de serviços, e a ideia que estas empresas vendem, por outro lado, é vender a possibilidade de se tornar um empreendedor, autônomo, com flexibilidade de horário e retorno financeiro imediato.

No caso da Uber, por exemplo, falando da realidade brasileira, é repassado à plataforma entre 20% e 30% dos valores cobrados aos clientes, e o motorista, além disto, tem que trabalhar com valores baixos de retorno por cada corrida e arcar com as despesas de celular, internet, combustível, manutenção do veículo, seguro do carro, e podendo ainda se responsabilizar por danos causados a terceiros.

Além disto, a plataforma tem um controle de qualidade dos serviços prestados bem eficiente, não havendo ônus para a empresa, com os clientes sendo os responsáveis por avaliar a corrida e o motorista, e que serve de fonte de pressão sobre os motoristas.

A pressão vem do fato de que se os motoristas tiverem duas avaliações negativas, são descredenciados, tendo que manter uma média de 4,6 pontos, numa escala de 1 a 5 estrelas, para continuarem com a parceria. Tudo é feito por um sistema operacional sem fiscalização ou assistência. E há motoristas trabalhando até mais que doze horas por dia, sem qualquer fiscalização do Estado ou instituição que garantam seus direitos.

Com a flexibilidade do modelo, o Brasil registra um desdobramento em que há, devido à ausência de fiscalização, um espaço para a subcontratação ou terceirização da Uber, numa exploração agressiva de mão de obra. Pois, como para se credenciar tem que ter carro e celular, começou um comércio de credenciamento, o que burla as regras da plataforma, sem qualquer controle sobre os condutores.

Na Europa, por sua vez, devido aos problemas que surgiram deste regime de exploração, países como Espanha tornaram obrigatório a regulamentação e registros de licenças para a operação da plataforma Uber no país.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog:
http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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