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​O ‘grande irmão’

A polícia política instalada no Ministério da Justiça “ficha” manifestantes antifascistas em todo o país

Como se não bastassem os desatinos em torno da pandemia do novo coronavírus praticados por Bolsonaro e sua equipe de desastrados, o Brasil ganhou mais um ingrediente na extensa lista motivo de opróbrio para toda a nação consciente. É o “dossiê sigiloso” no qual estão inseridos, por enquanto, 579 servidores federais e estaduais de segurança identificados como participantes do movimento antifascismo. A revelação da operação foi feita no portal Uol, identificando o ministro da Justiça, André Mendonça, como o mentor das ações. 

De coordenador dos acordos de leniência negociados entre o governo federal e empresas acusadas de desvios, o advogado e pastor presbiteriano André Mendonça, até bem pouco tempo servidor de carreira da Advocacia-Geral da União (AGU), foi chamado a assumir o Ministério da Justiça, por ser doutor em Direito, embora a formação acadêmica conte pouco nos círculos presidenciais, mas levando em consideração, principalmente, sua condição de “terrivelmente evangélico”.

Começava ali, depois do bizarro quiprocó entre o ex-juiz oportunista e parcial Sergio Moro e Jair Bolsonaro, a atuação do “grande irmão”, nos mesmos moldes dos profetizados por George Orwell no seu “1984”, a retratar o totalitarismo de um governo opressor, incapaz de sentir a dor dos outros. Basta ver o comportamento do governo em relação às mortes pela Covid-19.

A partir de sua nomeação do “terrivelmente evangélico”, o Ministério da Justiça passou de órgão de Estado para se transformar em um apêndice do governo, ou melhor, do presidente, pouco importando se isso é inconstitucional ou não.

Todos correm risco. O primeiro dossiê foi endereçado, de acordo com a reportagem, a órgãos públicos como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Casa Civil da Presidência da República, Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Força Nacional e administrações públicas estaduais. Ou seja, estabeleceu-se um cerco a pessoas que defendem a democracia e se posicionam contra manifestações antidemocráticas estimuladas pelo presidente da República.

Cria-se dessa forma um modus operandi de perseguição a servidores públicos, em explícita afronta à Constituição Federal, com o uso da máquina do Estado em defesa de ideologias e práticas totalitárias. Transforma o Ministério da Justiça numa espécie de Ministério da Verdade do livro de Orwell, a fim de escamotear a realidade e colocar movimentos antifascistas debaixo da ameaça de uma polícia política mantida com dinheiro público.

Um viés perigoso, cujo desfecho fica no campo do imponderável, mas com exemplos históricos cruéis como a Itália de Mussolini, a Alemanha de Hitler, e o Brasil da ditadura militar de 1964. Conviver com uma nação conscientizada, com capacidade crítica, é inaceitável para os que defendem ditaduras e se escondem no bom-patriotismo, nas ações de gente bem, em fervorosos credos religiosos como formas de opressão social.

Como no romance “1984”, a distopia de Orwell, o Brasil se cerca de engenhocas totalitárias visando sufocar o pensamento crítico e, pela via da violência, tornar a vida mais perversa e desigual. Mais grave é que diante desse cenário sejam observados apenas tímidos protestos, que não encontram a ressonância esperada, incluindo nessa relação agentes públicos de todos os níveis, mais preocupados com seus redutos eleitorais.

Em momentos como esses, só o grito das ruas pode mudar o quadro e evitar que o “Grande Irmão”, grafado com maiúsculas, construa um regime de força, como no livro, onde todos são vigiados, e punidos, e onde o amor é proibido em uma sociedade robotizada, como já acontece em círculos bolsonaristas.

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