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O ilusionista

O que mais surpreende no recente anúncio do governador Paulo Hartung de que o próximo ano será o cenário de suas pirotecnias políticas e eleitorais, graças a um pacote de investimentos de R$ 1 bilhão, não é exatamente o aparecimento inesperado desse volume de recursos, contrariando seu perseverante discurso nos últimos três anos de que o Estado estava quebrado, o que justificou a contenção de gastos no tripé básico formado por saúde, educação e segurança e, principalmente, a adoção de uma impiedosa política de achatamento dos salários do funcionalismo público. 

 

Definitivamente, espantoso é um governador proclamar isso com evidente oportunismo eleitoreiro e a mídia ecoar em manchetes como algo absolutamente normal. Hartung, claro, não está infringindo qualquer normal legal. Apenas aproveita a boa vontade da mídia para dizer como vai gastar num ano em que é potencial candidato à reeleição para o governo ou à disputa de uma das duas vagas ao Senado.  É o auge de uma terapia de choque a que ele submeteu a população, negando-lhe inicialmente benefícios sob o pretexto de um ajuste fiscal indispensável à saúde financeira do Estado para, agora, às vésperas do ano eleitoral, tornar-se o milagroso portador das boas novas.
 
Mas o que essa estratégia deixa evidente, é a necessidade que Hartung tem de superar seu desgaste perante a opinião pública. Nada melhor que um pacote de bondades para tentar ocultar os rastros de sua ineficiência nos três primeiros anos de governo, e que culminou com uma crise de  repercussão nacional e de efeitos extremamente desgastantes no âmbito local e nacional: a greve da Polícia Militar, inconformada com a falta de reposição salarial.

A crise minou de vez seu já combalido capital político. O incensado gestor moderno, que buscava, mediante parcerias à direita do espectro ideológico, voos mais altos no cenário político nacional, numa composição em chapa presidencial, acabou caindo na vala comum dos homens públicos tradicionais.  O que resta a Hartung, seguindo o deprimente exemplo do presidente Michel Temer em sua desesperada busca de votos no Congresso Nacional pela aprovação da Reforma da Previdência, é criar um balcão de negócios para consolidar, por exemplo, apoios de prefeitos, que podem se converter em eficientes cabos eleitorais em 2018. E um R$ 1 bilhão em investimentos, sem dúvida, é muito convincente. 

 
Um astucioso projeto eleitoral que coloca recursos públicos a serviço de uma candidatura, mas ao tempo tempo convencional, já que não passa de comportamento rotineiro na vida de um político conservador. É  tão somente o esfarrapado (ideologicamente) Hartung, depois de trocar o campo da esquerda pelo da direita predadora, exercendo seu  talento de ilusionista no palco de 2018, tal como um redivivo Houdini.

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