O autoritarismo nas esferas de poder encontra nas redes sociais um campo fértil para a prática de coação e ameaças
Na esteira de distorções construídas nas recentes esferas de poder, espalha-se no Brasil uma onda de ataques e ameaças com a utilização de plataformas de mídia colocadas à disposição de qualquer um, por meio de redes sociais. Essa prática atinge a todos, mas, de forma mais aguda políticos e jornalistas, alvos principais de ações criminosas por esse meio, envolvendo servidores públicos e parlamentares de destaque na sociedade.
O modelo adotado nos círculos do poder maior da República, que se repete em estados e municípios, é um atentado à liberdade de expressão, base de um autoritarismo que desrespeita a Constituição Federal e afronta a própria democracia. Na realidade, estabeleceu-se um clima de terrorismo no País desde que a operação Lava Jato travestiu-se do papel de poder político, sob a liderança do então juiz Sérgio Moro, notabilizado pela parcialidade, que costumeiramente vazava informações sigilosas previamente acertadas com setores da imprensa para sustentar seus interesses inconfessáveis.
A partir daí foi um pulo para se chegar ao atual estágio, ampliado depois da participação do estelionatário estadunidense Steve Brandon, preso recentemente nos Estados Unidos, que esteve a serviço da família Bolsonaro. Com ele, ocorreu a profissionalização desse tipo de crime e o estimulo à abertura de canais mais sofisticados para a difamação da honra alheia e também de ameaças, facilitada pela frouxidão das leis existentes e da influência exercida pelos criminosos junto a determinadas instituições públicas.
A abertura proporcionada pela tecnologia não pode ignorar as relações respeitosas estabelecidas na Constituição Federal de 1988, sob uma falsa capa de liberdade de expressão, a partir da constatação de que houve um ato ofensivo ao direito e à honra do outro.
As novas configurações de tempo e espaço não significam, é preciso saber, uma borracha para apagar o respeito à dignidade e à honra humanas, como vem ocorrendo, notadamente com as notícias falsas e mensagens enviadas diretamente às vítimas, como forma de coação, muito utilizada quando os alvos são jornalistas e outros comunicadores profissionais.
Nesse caso, vale lembrar a frase do magnata da imprensa William Randolph Hearsth, que inspirou o filme Cidadão Kane, de Orson Wells, segundo a qual “notícia é o que alguém, em algum lugar, não quer ver publicado; o resto é propaganda”. Ao coagir ou ameaçar jornalistas, o autor da ação pretende neutralizar algo que ele não concorda que a sociedade tome conhecimento, pela simples razão de que existe procedimento equivocado, ilegal ou criminoso, que, por isso, deve ser denunciado.
Valer-se do cargo eletivo para coagir, ameaçar ou adotar procedimentos inadequados a conceitos éticos e morais, exibindo-se com arrogância, como fazem algumas lideranças políticas, só comprova que não estão à altura da confiança que receberam de parte da sociedade, que saberá dar a devida prova na hora de depositar o voto da esperada reeleição. O terrorismo por si mesmo se aniquila.