Em Vitória, a aprovação de João Coser, do PT, para disputar o segundo turno, é um avanço do campo progressista
Em todos os casos, uma constatação: o campo progressista não está morto e deu mostras de que há possibilidades de mudar o cenário, preparando-o para o embate da sucessão presidencial de 2022. As bases foram colocadas e demonstram que o projeto neoliberal, responsável pelo golpe que tirou Dilma Rousseff, deu com as burras n’agua ao colocar o país debaixo da tutela de uma equipe sem capacidade de tocar a nação, principalmente diante da atual situação de pandemia e de crise econômica e ambiental generalizada.
Em Vitória, a aprovação de João Coser, do PT, para disputar o segundo turno, é um avanço significativo. Concorrendo com Fabrício Gandini (Cidadania) e Lorenzo Pazolini (Republicanos), ligados a grupos conservadores e até da extrema direita, que tocam a velha política, o petista representa a oportunidade de unir as forças do campo progressista, em especial PT e Psol, para garantir o comando da prefeitura da Capital e lançar as bases para 2022.
Nesse ponto, entra em jogo a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), fato que o aproxima da candidatura petista. Como político experiente que é, ele conhece as articulações do presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, e do deputado federal Amaro Neto, da cúpula do Republicanos no Estado, para a próxima sucessão estadual. São estratégias engendradas em Brasília com o presidente nacional da sigla, deputado federal Marcos Pereira, comandante do braço político da Igreja Universal, do empresário Edir Macedo.
O crescimento da candidatura de Pazolini na reta final da campanha se deve, em grande parte, justamente à movimentação nas chamadas igrejas, por meio de direcionamento ao voto operado por lideranças que desrespeitam inclusive a Lei Eleitoral 9.504, que proíbe o aliciamento de eleitores em cerimônias religiosas.
Além disso, vieram à tona irregularidades supostamente cometidas por Gandini e o atual prefeito, Luciano Rezende (Cidadania), que mostraram ao eleitor uma imagem diferente daquelas divulgadas na campanha eleitoral.
Nesse contexto, as denúncias e as investigações extrapolam a política partidária e/ou ideológica e penetram no campo da Justiça propriamente dita. Os denunciados serão julgados por fatos ocorridos e, neste caso, não houve difamação ou aproveitamento político da ação, como já começam a afirmar alguns apoiadores magoados com a derrota.
O fato é que esse levante da esquerda, pelo voto democrático, passa também por São Paulo, onde Guilherme Boulos e Erundina, do Psol, bateram o candidato da direita apoiado por Bolsonaro, Celso Russomano, e garantiram a disputa no segundo turno; por Porto Alegre, com Manuela D’Avila, do PCdoB, que seguem pelo Brasil afora, em todas as regiões, juntamente com candidatos do PT, colhendo vitórias, empates técnicos que levam ao segundo turno, e também derrotas.
É um sinal de que a onda direitista perdeu força e se vai, levada pela insatisfação da sociedade, que se manifesta nas mais diversas áreas, até mesmo entre o público evangélico, que ainda dá sustentação a Bolsonaro e as suas ramificações em estados e municípios. A baixa pontuação do Capitão Assumção (Patriota), com pouco mais de 7% dos votos em Vitória, marca o fim da cantilena de ódio, preconceito e incapacidade para gerir a coisa pública.