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O normal e o novo normal

Elaborar as consequências da pandemia como um “freio de arrumação” no caminhar humano é evitar novos problemas

Finalmente a pandemia dá sinais de perda de força, apesar da possibilidade de uma tal segunda onda, estamos sendo chamados a refletir sobre a chegada do momento de normalizar a vida.

Depois de resolvermos a querela: “O que é normal? Nos resta uma pergunta fundamental: qual será esse “novo normal” que viveremos?

As transformações sociais são sempre produtos de tensões contrárias, cujos resultados formam quadros novos, para o ordenamento de nossas vidas.

A pandemia do novo coronavírus promoveu um esbarro em nossas rotinas sociais, de consumo e profissionais. Grandes alterações em nossa forma de viver, principalmente diante da estratégia do isolamento social, para barrar o contágio. Para isso precisamos aprender muitas novas formas de nos relacionar, inclusive conosco mesmo, mas com os outros, com o trabalho, com o consumo e com o mundo.

Naturalmente, existem os sonhadores, que preconizam uma humanidade diferente, impactada positivamente pela pandemia e suas reflexões, que aprendeu a lição do uso consciente da natureza e da convivência solidária com as pessoas, mas… seremos mais humanos? Mais conscientes? Preservacionistas e solidários?

Bem, para esse filho de Hipácia (do grego: Hipátia), a realidade vai além do romantismo.

A vida moderna produziu um ser humano sagaz frente à natureza e também aos seus iguais, sempre preocupado em acertar, vencer, dominar, usufruir, acumular, na maioria das vezes, sem se preocupar com as consequências maiores de seus atos, principalmente se essas consequências não forem imediatas e/ou não lhe afetarem diretamente.
A pandemia esbarrou toda essa pretensão de domínio humano e comando da natureza, vez que um simples RNA, que não chega a ser um ser, foi tão poderoso que, até agora matou quase 700 mil pessoas no mundo, esbarrou nossa corrida pelo ouro, fechando atividades econômicas, e nos devolveu a nossos mundos pessoais sem dar chances de defesa, nos deixando completamente no escuro quanto à sua origem, formas de lidar e evitar ou conviver com ele.

Estamos trabalhando a construção de uma vacina, mas sabemos que: da mesma forma que ele surgiu, poderão surgir outros, tanto novos, como produtos de mutação dele próprio, mais ou menos agressivos. O que mais importa mesmo nesse aprendizado é a compreensão do nosso tamanho e importância frente à natureza, e a necessidade do desenvolvimento de rotinas harmonizadas com ela.

Assim, o novo normal precisará ser elaborado a partir desse aprendizado, de saber que o planeta, nossa casa, precisa ser respeitado enquanto mãe da vida. Utilizando a Teoria de Gaia – James Lovelock – que percebamos a terra como um enorme ser vivo, do qual somos órgãos, que a razão, nosso diferencial em relação aos outros animais, deve ser ferramenta de harmonização da vida, vislumbrando toda a estrutura e não unicamente o nosso bem-estar em detrimento de todo o resto, como temos vivido até aqui.

Além do “home office” que aprendemos, cuja prática deve fazer parte desse novo normal, da ampliação dos eventos presenciais para o público distante, das regras de higiene e contato físico, e da nova maneira de praticar credos religiosos, internalizando os templos, o principal aprendizado, que poderá nos livrar de problemas semelhantes e maiores, é o respeito à vida, em todas as suas manifestações, e o pé de igualdade que temos com tudo que vive nesse nosso mundo.

O ideal desse “novo normal” é aprendermos a viver sem superioridade e arrogância, a compormos o mundo vivo, utilizando o diferencial da racionalidade para contribuir em sua harmonia, preservação e qualidade.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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