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O pai da suicidologia

Edwin Shneidman vai além dos famigerados marcadores biológicos e centraliza o foco do suicídio como um fator de fracasso da sociedade

Edwin Shneidman nasceu em New York, em 1918, e morreu em Los Angeles, em 2009. Este estudioso, que é considerado por muitos como o pai ou o fundador da Suicidologia, foi um psicólogo de formação, e como um dos expoentes principais na investigação intelectual e empírica na área do suicídio e da tanatologia, trouxe muitas contribuições em caráter pioneiro que culminaram nas ações preventivas contra o ato suicida.

Shneidman foi um dos pioneiros do Centro de Prevenção do Suicídio de Los Angeles e da Associação Americana de Suicidologia, foi professor na Universidade da Califórnia, e ajudou na fundação da revista Suicide and Life-Threatening Behavior. As obras principais de Shneidman são: “The definition of suicide”, de 1985, “Suicide as psychache”, de 1993, e “The suicidal mind”, de 1996.

Shneidman partiu para as suas investigações sobre o fenômeno do suicídio tendo como uma das inspirações as teorias da personalidade de Henry Murray, e Shneidman então consolidou a concepção de que o suicídio seria o resultado final da confluência de um máximo de dor, um máximo de perturbação e um máximo de pressão, uma espécie de modelo cúbico que ficou conhecido como o “cubo suicida de Shneidman”.

Neste cubo as variáveis podem aumentar ou diminuir a sua força, o que leva a especificar do que se trata tais variáveis. Ou seja, quando Shneidman se refere à dor, ele fala deste tipo de dor psicológica, que se refere à frustração pela falta das necessidades básicas psicológicas, e que se constitui como o fator central do fenômeno suicida.

No que se refere à concepção sobre a perturbação, engloba todo tipo de distúrbio, que pode ser exemplificado pelas distorções cognitivas e as automutilações. A concepção sobre a pressão se refere ao que está fora e dentro do indivíduo, que está relacionado às vivências e aos acontecimentos de sua vida.

Shneidman coloca a intencionalidade do suicida em três aspectos que são a morte intencional, que implica num protagonismo consciente do suicida, um ato deliberado de se matar, a morte não intencional, em que pode ocorrer uma morte auto-infligida, mas em caráter acidental, como o disparo de uma arma de fogo de modo involuntário e, também, a morte subintencional, com um protagonismo indireto ou inconsciente do indivíduo, como ocorre, por exemplo, num acidente automobilístico violento.

As 10 características mais comuns aos suicidas, na classificação de Shneidman, tem definições como: Propósito – procura de solução, Objetivo – parar a consciência, Estímulo – dor psicológica intolerável, Stress – frustração pela falta das necessidades psicológicas, Emoção – desespero-desesperança, Estado cognitivo – ambivalência, Estado perceptivo – constrição, Ação – fuga, Ato interpessoal – comunicação de intenção, e Consistência – de acordo com estratégias de “coping” mal adaptativas do passado.

Shneidman reúne os elementos que podem contribuir para o ato suicida, e que é seu ensaio de um cenário suicida explicativo, colocando o sentimento de dor intolerável, que se refere a necessidades psicológicas básicas que foram frustradas e não realizadas, as atitudes de autodepreciação, baixa auto-estima, que denotam uma auto-imagem que sucumbe ao não suportar uma dor psicológica intensa e profunda.

Tem, ainda, a incapacidade do indivíduo de dar conta de sua vida prática, de suas tarefas diárias, também incluindo a sensação de isolamento, e o desespero e a desesperança, em que o individuo já não vê o que fazer para sair de sua situação difícil, além da fuga, em que a cessação da existência é o que resta como solução para uma dor intolerável.

Em 1987, Shneidman escreve: ” No Ocidente, o suicídio é um ato consciente de auto-aniquilação, melhor compreendido como uma doença multidimensional num indivíduo carente que acredita ser o suicídio a melhor solução para resolver um problema”.

Em 1996, por sua vez, Shneidman vai além dos famigerados marcadores biológicos e centraliza o foco do suicídio como um fator de fracasso da sociedade. Em 2001, ele afirma: ” O suicídio é um drama da mente… quase sempre relacionado com a dor psicológica, a dor das emoções negativas”.

Shneidman estará também na elaboração do que será chamado de autópsias psicológicas, uma metodologia de investigação empírica sobre casos de suicídio. Este termo surgiu em 1958, se ligando ao esclarecimento de mortes após a realização da autópsia médico-legal, numa colaboração entre médicos-legistas e a Psiquiatria e a Saúde Mental.

Saindo de Los Angeles para o mundo, esta metodologia de investigação reuniu dados mundiais que apontaram a realidade da existência, referindo-se a estudos que envolveram milhares de suicidas, de patologia psiquiátrica em cerca de 90% dos casos e depressão em mais de 50% dos suicídios.

No que se refere ao cuidado da família dos suicidas, a intervenção de Shneidman foi designada pelo próprio como “pósvenção”, que é, então, a intervenção específica sobre os familiares e amigos, sobretudo no auxílio aos processos de luto, no direcionamento de sua resolução.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog:
http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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