“Não era isso o que eu esperava”, lamenta o motorista de aplicativo ainda desconfortável com os quase R$ 5 que pagou por cada litro de gasolina que acabara de colocar no tanque do veículo. Comerciário, acostumado a escritório, substituiu há quatro meses a rotina diária em frente ao computador pelo 'volante do carrinho', como diz.
Faz parte da massa de 13 milhões de desempregados, sem qualquer garantia, seus direitos foram tirados, abruptamente. É duro, parece não haver perspectiva, penso… Ele quebra o silêncio, pergunta, com raiva, pelo preço do bujão de gás, mais de R$ 70, não dá, né?
A cena marca o último dia de 2019, ano em que o Brasil sentiu retrocessos em todas as áreas, nas cidades e nos campos. Sonhos se desfizeram na estupidez e no obscurantismo de governantes. Bolsonaro à frente com sua trupe tragicômica vestida de matizes rosa, azul, verdes e amarelos falsos, no cenário da tragédia nacional aberto para o mundo por um deus de mentira pregado em templos de barro e altares enganosos, onde o dinheiro fala mais alto.
O País despencou no ranking das nações emergentes, mas alcançou lugar destacado no bloco dos que rasgaram a constituição, feriram a democracia, com o “Supremo, com tudo”. O ano de 2019 mostra um Brasil abaixo de tudo, a começar pela postura do presidente, qual descompassada figura de botequim a proferir frases desconexas diante de um estranhamente silencioso, o ex-implacável Sergio Moro a lembrar personagens do saudoso gênio Chico Anísio: Calada! Moro obedece, não pode sair do governo agora, o lugar de Bolsonaro em 2022 é a meta.
O ano de 2020 chega com a aceitação popular do presidente em queda, segundo a pesquisa Datafolha. São os arrependidos, como o moço citado no início do texto – “Não voto mais nele não, de jeito nenhum”. Nessa frase nasce uma esperança, a partir das eleições de outubro próximo, apesar das indefinições da esquerda e dos avanços das ações empreendidas pelos condutores do status quo há mais de 500 anos.
Mas terá que ser uma esperança sustentada pela marca da resistência, porque no momento atual o silêncio não serve como alternativa, para desmascarar os farsantes que vampirizam a sociedade, em nome de um deus mentiroso e cruel.
Muitos sentem no bolso e descobriram que foram enganados. Outros, carregando o vírus fascista, que nunca morre, mantêm-se firmes nas fileiras bolsonaristas e engrossam o coro do preconceito, do ódio, e, como cegos, aplaudem a quebra de direitos dos trabalhadores, o fim de programas sociais, a destruição do meio ambiente em favor do agronegócio, a entrega de riquezas nacionais e, como o chefe, ficam deslumbrados diante dos norte-americanos e suas falsas virtudes.
O que virá em 2020 dependerá das escolhas políticas. A primeira, em outubro próximo, com as eleições municipais, a partir da qual começará a ser definido o futuro do Brasil para a década que se inicia, a fim de que os efeitos desastrosos do golpe de 2016 sejam superados.