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O que segura Rodney?

As controvérsias em torno das pesquisas do Futura nas últimas eleições comprometeram a credibilidade do instituto. Em função desse retrospecto inconfiável, Século Diário passou a analisar com reserva os dados produzidos pela empresa, que são publicadas nos veículos do grupo Gazeta. Prefere nem repercutir as pesquisas por uma questão de coerância.
O último levantamento feito pelo Instituto, veiculado neste fim de semana em A Gazeta, mostrou o óbvio: a popularidade do prefeito Rodney Miranda (DEM) está em queda livre, embora a interpretação jornalística dos números tente ainda dar um fôlego ao projeto de reeleição do prefeito. Aliás, nem precisava de pesquisa para confirmar o que a percepção já aponta faz algum tempo. A população canela-verde parece não estar disposta a dar mais um mandato para o prefeito Rodney Miranda. 
A sensação que se tem, e esse é mais uma vez um dado de percepção, é de que o eleitor se arrependeu de ter escolhido Rodney imediatamente após apertar a tecla confirma. Tanto que sua curva de popularidade começou a despencar após o primeiro dia de seu governo (1/1/2013). 
Em menos de um ano à frente do município, o prefeito se deparou com seu primeiro grande desafio. Enquanto Vila Velha literalmente submergia às chuvas de verão, Rodney abandonava a população à deriva e corria para o aeroporto para uma viagem de férias para a Disney. 
Mais de dois anos depois do episódio, Rodney reconhece que a viagem foi um equívoco. Mas há certos erros que são irreparáveis. 
Não bastasse o passeio à Disney fora de hora, o prefeito foi um desastre em termos de gestão. Até o improvável aconteceu. Um jovem foi morto por um segurança dentro do prédio da prefeitura. O infortúnio foi agravado pelas declarações do prefeito. Fiel ao estilo sherifão, ele se preocupou em justificar a atitude desbaratada do segurança como correta. 
Porém, o que mais encafifa na história de Rodney no Espírito Santo é o mistério que une o ex-delegado da PF tão tenazmente ao governador Paulo Hartung (PMDB). 
Os fatos não ajudam a desvendar o que estaria por trás dessa relação. Ao contrário, só criam mais caraminhola nas cucas de quem tenta entender a raiz dessa amizade incondicional. Rodney foi o pior secretário de Segurança que este Estado já teve. Pelo menos é o que mostram as estatísticas. Nunca se matou tanta gente no Espírito Santo sob a gestão da dupla Hartung/Rodney. Nos oito anos do governo Hartung, mais de 14 mil pessoas foram assassinadas. 
Apesar dos números desfavoráveis, Rodney conseguiu se eleger deputado estadual em 2010 com votação recorde. Alguns vão perguntar: Ah! Ele se redimiu e fez um belo mandato na Assembleia? Na verdade, meio mandato. Foi melhor assim, poupou os cidadãos de mais dois anos pífios como legislador. Ou alguém se lembra de algum projeto expressivo de Rodney?
Rodney abreviaria o mandato de deputado para se lançar a mais um desafio que parecia quase impossível: disputar a eleição a prefeito de Vila Velha contra dois tradicionais candidatos (Neucimar Fraga e Max Filho). Quietinho, mesmo porque não tinha muito a dizer, Rodney correu por fora e pôs os dois medalhões da política canela-verde no bolso para eleger-se prefeito no maior colégio eleitoral do Estado. 
Essas duas conquistas improváveis de Rodney sempre foram creditadas a Hartung, que tem carregado o ex-delegado nos ombros desde 2003. Depois que conquistou o terceiro mandato o governador não tem medido esforços para tentar tirar o prefeito da cova de impopularidade que ameaça sua chance de vitória em outubro. 
Além dos recursos que se tornaram inalcançáveis para a maioria dos prefeitos capixabas, mas que têm sido privilégio de Rodney, o governador também mobilizou o apoio político do deputado estadual Amaro Neto (SD). O apresentador de TV tem emprestado seu carisma a Rodney para tentar dar um verniz de popularidade ao prefeito, que não tem empatia com a população, sobretudo entre os segmentos mais populares. 
Mas por que Hartung se desdobra tanto por Rodney? O governador costuma ser pragmático nos seus apoios. Se bate os olhos nas pesquisas e percebe que o candidato tem chances remotas de vitória, Hartung é o primeiro a abandonar o candidato pelo caminho, ou melhor, não pega nem na mão. 
Com Rodney, porém, Hartung age diferente. O governador se propõe a arriscar a própria pele para salvar seu apadrinhado a qualquer custo. Há quem diga que esta fidelidade cega ao ex-delegado tenha nascido nos bastidores do crime do juiz Alexandre de Castro Martins Filho. 
Rodney, à época secretário de Segurança, foi um dos protagonistas do caso. Ele ajudou a montar a tese de crime de mando, que não é consenso até hoje. Longe disso.
É difícil afirmar o que poderia estar por trás dessa relação simbiótica entre Rodney-Hartung, se além do caso Alexandre há outros segredos entre os dois. Mas uma coisa é certa. Eleger Rodney pela terceira vez será tarefa desafiadora para Hartung. Não se sabe, porém, o que pode acontecer se o prefeito não se reeleger. Essa hipótese parece causar um temor em Hartung. É algo que vai muito além da casual derrota de um apadrinhado político.

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