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​O Solid de Tim Berners-Lee

A plataforma visa se tornar um projeto de código aberto com amplitude mundial

Tim Berners-Lee, o pioneiro criador do protocolo http e, em resumo, da internet, luta agora, através do projeto Solid (Social Linked Data), para recuperar a liberdade que houve um dia na internet, antes do domínio massivo das big techs, com uso indiscriminado de dados pessoais dos seus usuários, indo de encontro a este abuso, com o Solid, que consiste em criar uma web descentralizada, na qual os usuários terão, novamente, o controle sobre os próprios dados.

Tim Berners-Lee havia entrado em conflito com a sua criação, pois quando viabilizou a internet, em 1989, imaginou um ambiente livre e acessível para todos os seus usuários. Ele lança o Solid, então, que ainda é algo incipiente, e a apresentação oficial desta sua plataforma veio acompanhada de sua empresa Inrupt Inc., encarregada de cuidar da Solid.

A insatisfação de Berners-Lee com o que a sua criação, a World Wide Web, se havia tornado, o levou a tentar retomar protagonismo nos rumos futuros deste mundo virtual, pois este domínio das big techs incomoda tanto os pioneiros da liberdade na internet, como governos e demais instituições, que já reagem fortemente com medidas antitruste.

Seu trabalho conjunto com pessoas do MIT e de outros lugares o ajudou a desenvolver o Solid, que consiste num projeto open-source que visa restaurar a autonomia e posse de dados pessoais dos usuários da web. O projeto já tem alguns anos, veio de um paper publicado em abril de 2016, quando a plataforma foi apresentada pela primeira vez.

Berners-Lee explica: “O Solid é como vamos evoluir a web para poder restaurar o equilíbrio ao dar para cada um de nós um controle total sobre dados, pessoais ou não, de forma revolucionária. É uma plataforma criada usando a web atual. Ela dá a cada usuário uma escolha sobre onde seus dados estão armazenados, que pessoas e grupos específicos podem acessar certos elementos, e que aplicativos você usa.”

Os objetivos da Solid são ambiciosos, pois a plataforma visa se tornar um projeto de código aberto com amplitude mundial, e o concurso da empresa Inrupt Inc. para viabilizar o alcance da plataforma é fundamental. Uma empresa fundada por Berners-Lee em sociedade com John Bruce, e aqui se vê o trabalho de transformar a Solid em algo comercial, e ainda é responsável por manter a Solid no ar, como uma plataforma independente.

A Inrupt Inc., mesmo diante de não atingir a meta de criar um ecossistema que dê lucro com a comercialização de aplicativos certificados e que tenham hospedagem pelo Solid, já tem financiadores, tal como a Glasswing Ventures, que é uma empresa que aposta em tecnologias que visam desenvolver a IA (Inteligência Artificial).

Para além da ideia base do projeto, a privacidade e posse de dados pessoais pelos usuários da web, Berners-Lee acredita na Solid como um passo além na evolução da própria web, com uma internet realmente democrática e acessível para seus usuários.

E esta evolução da web será marcada por passar de simples biblioteca para consulta de documentos, indo para um ambiente participativo, em que os usuários poderão dar as suas próprias contribuições, para além da atual postagem ou comentários em redes sociais ou sites.

Esta ideia avançada de evolução da web antevê esta como um grande computador universal, com dados disponíveis para serem explorados globalmente, pois, segundo Berners-Lee, com a Solid, os usuários poderão “interagir e inovar, colaborar e compartilhar”.

Esta será a transição entre uma web de documentos, em que simplesmente se consulta conteúdos, para uma web de dados, com uma participação ativa de seus usuários.

Berners-Lee ainda acredita na viabilidade comercial da Solid, pois a demanda para serviços confiáveis pode ser vista na experiência bem-sucedida do Dropbox, nuvem que muitos usuários pagam para acessar, pois não há controle de informações pessoais como no Google Drive. A qualidade e a segurança do Dropbox são características que a Solid deve ter, mas com ambições evolutivas para a web, como dito.

Uma crítica pode ser que algo descentralizado, como é a ideia para o Solid, implique em lentidão de processamento, pois um modelo P2P ou misto, envolvendo servidores Solid, poderia envidar um esforço de energia enorme, e tem ainda a dúvida se haverá uma massa de computadores ligados 24/7 (24 horas nos sete dias da semana) para sustentar a rede Solid.

Por sua vez, tendo, então, uma solução com servidores dedicados, haveria uma implicação das grandes corporações novamente, podendo inviabilizar o Solid. Talvez este alto consumo e o problema de processamento possam ser resolvidos por novas fontes de energia renováveis como a eólica e a solar, e ainda pelo próprio avanço tecnológico imponderável.

A ideia de um arquivo DATA que é protegido por uma chave privada, com esta gerando uma chave pública, que a conecta a um banco de dados específico, implica em que as ações do usuário ainda serão detectadas, só sendo preservados seus dados pessoais.A Solid, então, funcionará como um servidor proxy.

E esta ideia de ser uma plataforma disruptiva pode ser questionada pelo fato da Solid ainda ter um sistema que depende de uma infraestrutura preexistente, é hospedado na AWS. O visual ainda é incipiente, baseado em padrão bootstrap, e nem o código publicado no github parece ainda bem resolvido ou estruturado. Ainda há um caminho longo.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog
: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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