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Onde andam os bons tempos?

Por melhor que esteja a vida, o tempo de antes goza de bom conceito entre democratas e republicanos…

Por melhor que esteja a vida, a sorte, os amores, tem sempre uma voz conclamando – Ah, bons tempos aqueles! Quais? Ao ver alguma coisa boa, há sempre alguém comparando – Como nos velhos tempos! Tempos idos e vividos, ou apenas pressentidos, pois não são apenas os velhos que reclamam. Os jovens também acham tempo para desviar os olhos do celular e anunciar aos quatro tempos – Já não se fazem tempos como antigamente. No tempo da brilhantina, Oh, que tempinho bom!

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Que tempos são esses ninguém consegue identificar. O consenso geral é que houve um tempo melhor, mas achar esse tempo é o mesmo que achar um bom filme ainda não visto na TV em noite de chuva. Em que data, em que época, em qual momento do correr do tempo o tempo foi mais generoso: na infância ou na juventude; na idade da razão ou na terceira ou quarta idade? Por melhor que esteja a vida e o clima, o tempo de antes goza de muito bom conceito entre democratas e republicanos, gregos e troianos, romanos e Romanoffs.

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O tempo que vivemos é um só – o tempo presente. O passado não volta mas vira fantasma: voltamos nós a ele constantemente, seja pelas boas ou más recordações. A memória é um álbum que folheamos constantemente. Os pessimistas dirão que os tempos de antes só podiam ser melhores, de vez que os de hoje não andam nada bem. Mas o tempo passa e vozes outras virão, repetindo o mesmo refrão: Ah, que tempinho bão! Que saudade daqueles tempos! Aqueles, sim, foram bons tempos. Se hoje chove e ontem deu sol, tenho saudades do bom tempo de ontem. Mas se hoje o sol brilhar, esqueço que ontem não fez bom tempo.

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Tempo bom para uns pode ser mau tempo para outros. Tempo de ir à praia ou de comprar algumas quinquilharias numa promoção gigante nas Casas Bahia. Para os degredados, bom tempo são as grandes promoções de todo dia no Walmart, Para não fugir do meu tema recorrente, bons tempos seriam os de antes ou os de depois da viagem sem retorno para a terra onde jorra leite e mel? Jorrava, dirão os que não têm tempo para chorar o tempo perdido. Bons tempos quando uma guerra estúpida não ameaçava a paz mundial. Bons tempos quando o americano não sabia o que era infração, em um tempo não tão bom em que qualquer criança no Brasil conhecia bem seu significado. O tempo está sem tempo para nós – segue seu compasso, que tempo é dinheiro jogado fora.

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Bom tempo quando se tirava goiaba do pé. Bom tempo quando não se falava em aquecimento global. Bom tempo quando os vizinhos se conheciam e se cumprimentavam; os jovens respeitavam os mais velhos; os alunos respeitavam os professores. Bons tempos aqueles, quando era possível andar a pé, comprar jabuticabas na esquina, viajar despreocupadamente para qualquer lugar, comer e não engordar, engordar e não se importar; sair do banco sem ter medo de assalto, comprar verdura na porta. Bom tempo: uma realidade que desafia a meteorologia, bons tempos: um mito que desafia o tempo.

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